1963 - 2020
Pediu a amada em casamento por meio de uma carta ao sogro; e, para recebê-la, ergueu uma casa com suas próprias mãos.
Talvez por ser o mais responsável dentre os seus oito irmãos Valmir teve uma infância cheia de trabalho. E, apesar de seu jeito muito brincalhão, era comprometido com sua humilde família desde sua adolescência, vivida no Rio Grande do Norte.
Sua história amorosa teve enredo de novela. As famílias, dele e da esposa, conheciam-se no Nordeste, onde moravam e, embora ainda não namorassem, ele já a amava. Valmir mudou-se para São Paulo ainda jovem tentando ganhar a vida e ela, depois de um tempo, mudou-se para a mesma cidade junto com um irmão. Ali tiveram um contato maior e começaram a namorar. Devido à distância geográfica, para oficializarem o namoro ele pediu a mão da pretendente ao pai dela por carta e obteve a resposta positiva da mesma forma. E foi com suas próprias mãos e o suor do seu trabalho que Valmir ergueu sua casa.
Ele contava que no dia do seu casamento ficou muito emocionado ao ver como ela estava linda vestida de noiva. Casaram-se e tiveram as filhas Cristina e Crislene. A vida toda ele alimentou o sonho de ver as filhas vestidas de noiva, lindas como a mãe, para serem conduzidas por ele ao altar; felizmente, ele teve a oportunidade de realizá-lo com as duas filhas.
Valmir amava celebrar a vida fazendo festas e mais festas, só para reunir a família, além de ter grande prazer em curtir os dois netos, fazer muitas viagens só com a esposa e comer tudo aquilo de que mais gostava.
Desde menino Valmir trazia consigo uma curiosidade inata, bem como uma amorosidade que o levava a fazer pela família tudo o que estivesse a seu alcance. Trabalhou por anos a fio na fábrica da Antarctica. Depois, tornou-se metalúrgico, num trabalho pesado do qual ele nunca reclamava e parecia estar sempre feliz, com seu sorriso solto.
Nesse trabalho ele teve não só os recursos financeiros para o seu papel de provedor, mas também, junto com eles, sérios problemas de coluna, que o fizeram parar de trabalhar. Em contrapartida, montou o seu almejado mercadinho, onde vendia de tudo. E assim, antes de falecer, realizou todos os seus sonhos.
Sua marca característica era sua linda barba e, de seus costumes, deixou as lembranças de como amava café e a forma peculiar de após o almoço, impreterivelmente, levantar-se e dar uma balançada no bule de café para indicar que ele estava vazio e que precisava fazer mais. Além disso, possuía um jeito todo seu de dizer quando se surpreendia com algo: “Ô lôco!”
Sua generosidade estendia-se até os animais. Certa vez, dirigindo um caminhão da empresa, deparou-se com uma preguiça no meio da estrada. Parou, desceu, foi até ela, pegou-a no colo e a deixou às margens da estrada, devolvendo-a ao seu habitat natural.
Crislene fala dos ensinamentos que recebeu do pai: “Ele dizia 'que independentemente de qualquer coisa a fé precisa ser inabalável, pois Deus tem o controle de tudo e sabe o que é melhor para cada um de nós'. Meu pai estava confiante e sempre alegre e comunicativo. Fez amizades com todo mundo no hospital, o que era bem a cara dele. Ele faleceu em paz, pois sempre foi temente a Deus. Somos católicos e ele sabia que Deus estava no controle de tudo, mesmo se ele fosse embora para a morada eterna”.
Valmir nasceu em Humarizal (RN) e faleceu em São Paulo (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Valmir, Crislene Bezerra Miranda Fernandes. Este tributo foi apurado por Mariana Nunes, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 14 de fevereiro de 2022.