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Vitor Henrique da Silva Azevedo

1995 - 2020

A severidade da vida não lhe tirou a alegria com que seu povo existe e resiste.

Desde muito criança, Vítor Henrique falava que seria professor de Educação Física. Não deu outra. Além de atleta de handebol e árbitro da Federação Paulista de Atletismo, Vítor realizou seu sonho lecionando em escolas públicas, nas quais era muito querido. E ainda encontrava tempo para atender a garotada que batia à sua porta para jogar futebol.

Entre seus prazeres, estava ouvir pagode – sabia as letras de cor.

Vitor era casado e tinha dois filhos. Aliás, constituir uma família era outro de seus sonhos, que realizou bem cedo: foi pai pela primeira vez aos 20 anos. Quem diz tudo isso é sua esposa, Juliana, a quem o marido lhe dirigiu suas últimas palavras: “Cuida das crianças”.

Já o sindicalista Mauro Inácio, num post em homenagem a Vítor, escreve que, “Como jovem negro e professor precarizado, o docente foi mais uma vítima do racismo estrutural brasileiro, pois como os dados já demonstram, os negros pobres são a maioria das vítimas da Covid-19”.

Apesar disso, porém, Juliana escolheu a palavra “alegria” para resumir a homenagem à breve vida de seu marido. É bem a síntese daquilo que faz o povo negro – esse mesmo que inventou o pagode que Vítor tanto amava – existir e resistir no Brasil.

Vitor nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Ribeirão Preto (SP), aos 24 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Vitor, Juliana Araujo da Silva. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de dezembro de 2020.