1946 - 2020
O briguento de coração grande e mesa farta.
“Viva o bucho e morra o luxo!”, respondia Walbert quando a companheira se queixava de seus exageros na compra de alimentos, enquanto a casa carecia de outros itens. Ele adorava a mesa farta. Mas o baixinho de coração grande gostava de manter a fama de bravo: falava alto, brigava, se enfurecia. Nunca pedia desculpas diretamente: demonstrava arrependimento por meio de gestos carinhosos e acolhedores. Com os netos e bisnetos, porém, não havia braveza: o avô bonachão fazia as vontades deles. No fundo, queria ter a família toda sob sua proteção, dizem seus filhos Cleybert e Clezya.
Gostava de presentear – sempre tinha uma “lembrancinha” – e de receber presentes em datas festivas. Funcionário público, era incorruptível: durante quarenta e cinco anos de serviço, jamais admitiu qualquer má conduta, e se orgulhava da integridade de suas conquistas na carreira – que registrou num caderno de vinte páginas. Aposentou-se no mesmo dia em que foi intubado. Antes, pediu que avisassem a família, a mesma à qual esse piauiense de gênio forte tanto se dedicou. E partiu para a derradeira briga, como o guerreiro que fora ao longo da vida.
Walbert nasceu em Parnaíba (PI) e faleceu em Vila Velha (ES), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelos filhos de Walbert, Cleybert e Clezya Sales Seixas Grazziotti. Este tributo foi apurado por Janaina Dias, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 2 de agosto de 2020.