1955 - 2020
Era tio, mas viveu como pai.
A função mais importante de Walter era desempenhada em benefício a duas pessoas, Roberta e Adriana. Delas, saía o chamado que justificava tanta dedicação: “Tio Walter!”, e lá estava ele, a postos para o que viria. Qualquer pedido era uma urgência. “Os brinquedos bons foram presentes dele”, lembra Adriana, a sobrinha caçula. O mais inesquecível? A casa da Barbie. Adriana tinha oito anos. Não se esquece. Não se esquecerá. Além dos presentes, Tio Walter pediu a um amigo que se vestisse de Papai Noel! Tudo, sempre, pela felicidade delas.
Tio Walter era também engraçado. Transformava a vida em piada. A sua vida em piada. Essa era, sem dúvida, sua maior virtude: levar a vida com leveza e brincar com os próprios erros. Foram muitos os Natais e as Páscoas que tio Walter contava a história do tombo: numa manhã chuvosa, foi acordado às pressas pela mãe. Que levasse Adriana de carro para a escola - e mais: que voltasse com pão! Foi. Destrambelhado que só, quando chegou, porque era chave do carro, era saco de pão, era a chuva, era o sono… Escorregou! “De bunda no chão”, como ele falava! Era sua história predileta. Imitava com as mãos os pães que caíram no chão molhado. Mas o melhor era o que vinha depois: a risada do tio Walter. Era, sem dúvida, “a” risada!
Nas horas vagas, gostava de passear na varanda de casa para, em seguida, sentar-se à poltrona da sala e fazer palavras-cruzadas. Se tivesse companhia, dominó ou cartas. Isso depois de cumprir as tarefas como administrador.
Tio Walter, que se dedicava aos pedidos das sobrinhas, também teve a sua vez de ser atendido. Seu último pedido a Adriana foi um picolé de limão. E ela, por ter aprendido com ele, soube dar valor: aquele era, sem dúvida, um pedido de urgência.
Walter era tio. Mas viveu como pai.
Walter nasceu São Paulo (SP) e faleceu São Paulo (SP), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Carolina Margiotte Grohmann, em entrevista feita com sobrinha Adriana, em 23 de maio de 2020.