Sobre o Inumeráveis

Wellington Wil do Prado

1988 - 2021

Comprava carros batidos e os arrumava, filmando todo o processo, para publicar em seu canal.

Will conheceu a esposa Adrielli em 2015, no aniversário de um amigo em comum, o Ed. Desde então, o dia 8 de janeiro se tornou especial para eles. Foi tudo tão intenso que três meses depois os dois foram morar juntos. Do amor do casal nasceu Ayla. Will e Adrielli se casaram quando a filha estava com seis meses.

Além de Ayla, o casal teve dois filhos caninos, como explica Adrielli. "Ele morria de amores pelos Border Collies, o Hemp e a Hanna. O Hemp chegou em casa primeiro e era realmente o melhor amigo dele", diz ela.

Filho de Wilson da Silva Prado e de Helaine Corrêa Prado, Will tinha três irmãos: a mais velha, Danyelle, o Gabriel e a caçulinha Nathalia.

Mantinha uma relação de amizade muito bonita com a mãe, que sempre foi sua maior influência. Estava especialmente feliz por estar trabalhando com ela. "Dava para ver na expressão dele que fazia diferença. A mãe era com certeza a pessoa que ele mais admirava no mundo", conta Adrielli.

Na infância, Will era muito levado, o tipo de criança que amava uma aventura, e não tinha medo de nada.
"Ele aprontava demaaaaaais! Era daqueles meninos que viviam na rua, jogando bola, jogando bets (também conhecido como taco), andando de bicicleta. Aí uma vez o espertão ficou sabendo que jogar gasolina e colocar fogo na bicicleta ia tirar a tinta dela. Acredita que ele fez isso? Os vizinhos viram e correram para enrolá-lo numa coberta. Mas ele foi parar no hospital com algumas queimaduras. Nada grave, um susto", relembra a esposa.

Desde a infância, aliás, Will levava zero jeito com fogo. Chegou a colocar fogo numa mesa de centro de madeira na hora de acender uma panela de fondue. "Eu me lembro de ficar gritando: 'Chama o bombeiro' e ele com um guardanapo na mão tentando apagar o fogo e dando uns pulinhos. Acabou com todo o romantismo da noite", ri Adrielli.

Will sempre foi antenado em músicas, e sua paixão era a eletrônica. Tinha um jeito peculiar e único de dançar, erguia os dedos para cima, fechava os olhos e sentia a batida. Os que o conheciam sabiam que esse era o termômetro de aprovação.

"Ele sempre me levava para festival de música eletrônica. Que não é nada meu estilo, mas eu ia de companhia. O Universo Paralello, que acontece a cada dois anos na Bahia, era de lei pra ele. Quando acabava ele já começava com os planos para o próximo." Gostava tanto que planejava criar sua própria festa eletrônica, que ia se chamar Muladhara.

Outra paixão eram os carros e o canal no YouTube, onde dava dicas para pessoas que quisessem recuperar veículos. Tinha, inclusive, acabado de conseguir monetizá-lo.

Corintiano, amava implicar com a esposa por ela ser palmeirense. "Quando nossa filha nasceu comprei um porquinho com a camiseta do Palmeiras para ele e deixei na cama dela. Quando ele viu, pegou e jogou no lixo. E comprou uma camiseta do Corinthians para ela. Quando ficava sozinho me mandava fotos dela de corintiana, para provocar", diverte-se Adrielli.

Outro dia especial na vida do casal era o aniversário dos dois, no mesmo dia, 2 de maio. No primeiro aniversário sem Will, Adrielli completava 30 anos, e fazia menos de um mês que ele havia partido. Os amigos do marido fizeram questão de ir à casa deles. "Eles disseram: 'Dri, você não aprendeu nada mesmo com o Will, né?'. Compraram algumas cervejas e ficamos em casa, bebendo e relembrando histórias dele. Porque o Will amava aniversários, nunca deixava passar em branco. No primeiro aniversário que comemoramos juntos eu até estranhei, ele comprando bexigas, encomendando bolo, docinhos. Ele dizia: 'Pensa em tudo o que já viveu e no que vai viver! Tem que comemorar sim, a gente nunca sabe o dia de amanhã'."

"O fato de os amigos terem aparecido em casa naquele dia reforçou algo que eu sempre falava para ele, como eu admirava a maneira dele de cultivar as amizades. Ele tinha muitos amigos! De grupos distintos, totalmente diferentes. Eu dizia para ele que a única coisa que os amigos dele tinham em comum era ele! Sabia pegar o lado bom de cada um, o que cada um tinha de melhor para oferecer e juntar com o melhor dele também. Eu achava isso incrível, os laços que ele criou em vida foram tão fortes que a melhor herança que ele deixou pra mim e para Ayla foram esses amigos todos, que ficaram do meu lado."

Adrielli continua: "Eu sempre falava para ele que queria que nossa filha puxasse a minha inteligência, porque gosto muito de ler, escrever, estudar e aprender. Mas que puxasse a esperteza e a habilidade dele em conquistar pessoas, porque ele era excelente em fechar negócios, em conquistar a confiança dos outros, não de uma maneira ardilosa nem planejada, mas de uma modo tão sincero que não havia quem não se deixasse ganhar."

"Minha lembrança favorita dele é o sorriso. Lembro do sorriso dele e começo a sorrir também. O sorriso dele não é uma memória de dor, é uma memória que me preenche, porque é o sorriso mais lindo que já vi na vida. E minha filha tem o sorriso dele!"

Wellington nasceu em Cascavel (PR) e faleceu em Londrina (PR), aos 32 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Wellington, Adrielli Cristina de Almeida Comar. Este tributo foi apurado por Luma Garcia, editado por Luma Garcia, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2022.