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Yara Pedrina Moraes de Lima

1962 - 2021

Apreciadora de pupunha e tucumã, encomendava centenas e distribuía em saquinhos entre os amigos.

Yara possuía o dom de unir a família e gostava muito de festas e comemorações. Nos aniversários, era sempre a primeira a dar parabéns e mal conseguia esperar chegar meia noite e o dia virar para fazê-lo com direito a bolo. Para ela, a vida de cada pessoa merecia ser celebrada. Sabia a data de aniversário dos que viviam próximos e, assim, dava sempre um jeito de fazer acontecer um churrasco ou um jantar fora de casa. Virou tradição!

Dona Yara trabalhou por muitos anos na área de Saneamento e Vigilância Sanitária, mas, por fim, foi no comércio familiar, com uma lanchonete e depois em sua loja de frios, que ela fez mais sucesso. Era o braço direito e o esteio do marido, como ele sempre dizia. Os dois eram conhecidos como um casal lindo e admirado.

O início da vida deles não foi fácil porque nem todos eram a favor que eles vivessem o seu amor, mas uniram suas forças e construíram uma vida linda ao lado dos filhos Alexandro, Glecianne e Clissyanne. Uma tradição que o casal conseguiu manter ao longo dos anos era sair para tomar café juntos, e aos sábados para jantar.

Yara tinha uma energia e uma ligação forte com as crianças e, com isso, acompanhou de perto o crescimento dos seus netos Kalid, Clara e Davi. Gostava de ir ao cinema com eles, com certeza uma lembrança que ficará no coração dos pequenos, junto com a saudade.

Dona Yara e Sr. Francisco tinham em comum a paixão pelo Natal. Decoravam a casa e deixavam bem iluminada. Apreciavam a magia natalina e curtiam todo o mês dezembro esperando ansiosos os dias 24 e 25. Todo fim de ano ela jogava na Mega da Virada e dizia que dividiria o valor com todos e, com seu otimismo de sempre, acreditava que ganharia. Até quando seu irmão faleceu, prometeu que jogaria por ele e, caso ganhasse, dividiria entre seus sobrinhos.

Ela foi uma mulher admirada pela família, pelos amigos e até pelas amigas de sua filha Clissy. Sempre muito afetuosa, costumava dar um beijo nelas como forma de demonstrar carinho. As meninas amavam quando ela chamava seu esposo e dizia: "Meu bem, cadê meu beijo? Venha cá."

Transmitia paz e suas amigas tinham o costume de procurá-la para pedir conselhos. No meio da tempestade, Yara era calmaria. Para ela, tudo poderia ser resolvido, desde que fosse com calma. Era dona de uma sabedoria imensurável e era notável como sempre sabia dar um jeito de achar o caminho certo para sair de situações inesperadas graças ao seu jeito sábio de enfrentá-las.

Dona Yara gostava muito de viver e sua paixão pela vida a levava a fazer tudo aquilo que considerava importante: Era uma festa receber a família com pizza, cerveja e boas conversas que faziam todos sentirem-se bem em sua casa. Amava as plantas, em especial a arruda e as rosas, só não conseguiu realizar o sonho de ter em seu quintal um pé de romã e sempre que comprava uma muda, ela não vingava e, quando vingava, morria logo ou os frutos não chagavam a nascer.

Tinha um amor inexplicável pelos animais e, com seu bom coração, vivia alimentando os gatos e os cachorros de rua e, estes, sentindo sua falta, desapareceram da porta de seu comércio, provando que era o seu bom trato que os mantinha por ali. Demonstrava empatia também pelas pessoas mais necessitadas, sempre dizendo à filha: "A gente ajuda como pode, minha filha".

Um de seus maiores prazeres era presentear seus parentes queridos e seus amigos. Só ofertava algo que gostaria de receber, então pensava com muito carinho antes de realizar cada compra. Em suas horas livres dizia ao marido que iria ao banco, mas quando chegava de volta à lanchonete ou à sua casa, vinha com as mãos cheias de sacolas com presentes!

Moradora antiga na sua rua, Dona Yara aprendeu com uma das vizinhas a fazer calcinhas e, começou a produzi-las incialmente sem a intenção de vendê-las, mas depois algumas amigas passaram a comprar suas produções. Este era um de seus hobbies e, o outro, era fazer bonitos guardanapos.

Gostava muito de pupunha e tucumã! Encomendava cerca de duzentos tucumãs, as descascava, colocava em saquinhos e as dava para os amigos que iam visitá-la.

Uma das formas de aproveitar a vida era viajando. Desde quando seus filhos eram pequenos, passeavam muito, cerca de duas a três vezes ao ano. O destino favorito era Fortaleza e lá fizeram amizade com a família de uma colega que Yara tinha em Manaus. Ficaram hospedados durante um mês inteiro, período em que Yara, com seu carisma para fazer amizades, conquistou o coração de todos eles! Hoje, essa família sente falta de Yara e diz que a saudade de conversar com ela permanece.

Yara realizou também uma viagem que sempre sonhou e participou do Círio de Nazaré, em Belém, a maior festa religiosa do planeta, e voltou encantada!

Era apaixonada também por Copas do Mundo e Olímpiadas, ocasiões em que torcia fortemente pelo Brasil. Ela se preparava comprando camisetas originais e as personalizava com seu nome e o do marido.

Católica, ia às missas juntamente com o esposo. A família realizou um desejo antigo dela ao mesmo tempo em que a homenageou, fazendo um altar em casa, com uma imagem. É nesse cantinho que Francisco reza todos os dias por Yara.

Um dos sentimentos mais marcantes de Yara era a gratidão que ela demonstrava e, mesmo, quando passava por dificuldades, valorizava o que tinha dado certo. Agradecia por tudo, até por uma passagem de ônibus que conseguia pagar. Dizia que a família deveria dar graças a Deus , independente do que fosse ou da quantia. Ela conseguia falar com positividade até quando precisava noticiar algo ruim, demonstrando certeza de que no fim tudo daria certo.

Yara nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Yara, Clissyanne Moraes de Lima. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 8 de janeiro de 2022.