1955 - 2021
Gostava de registrar em fotografias os destinos percorridos na companhia alegre de sua esposa.
Japonês de nascimento e brasileiríssimo de coração, Yasuyoshi fincou raízes no país que o acolheu aos quatro anos de idade, quando desembarcou, com a família numerosa de dez irmãos, no porto de Santos. Talvez por isso escolheu o time do Santos como seu favorito.
Desde pequeno, trabalhou em feiras livres na capital paulista e foi fazendo “bicos” para ganhar o próprio sustento, até conseguir o emprego fixo já na juventude. Mesmo sem estudos, tinha a inteligência aguçada, o que o ajudou a firmar-se como profissional de manutenção de máquinas para uma rede bancária, onde trabalhou por vinte e dois anos, até a aposentadoria. Fazia viagens frequentes a serviço. Foi numa delas, logo no começo da carreira, que conheceu seu grande amor. “Eu era do interior da Bahia e morava em Salvador, numa pensão em frente a uma pequena praça. Foi ali que nos vimos pela primeira vez. Começamos um flerte e logo ele deixou um bilhete na pensão me convidando para jantar”, relembra Lúcia, com ternura.
Depois de três meses de namoro já decidiram morar juntos. Ela estava grávida e ele, com disposição, assumiu a menina Priscila como sua filha. Ali se formava uma nova família, que viria a ser a razão de viver de Yasuyoshi. Alguns anos depois, o casal ainda teve Thiago e se alegrou, na maturidade, com as netas Alice e Sofia. Viveram um casamento de cumplicidade e companheirismo por quase quarenta anos. A emoção toma conta de Lúcia ao relatar a dedicação e o amor do marido. “Parecia que nos conhecíamos de outra vida”, fala em lágrimas.
Maedinho, como era chamado carinhosamente entre os amigos, apostava no bom humor. “Ele era uma pessoa de bem com a vida, não esquentava com nada e me dizia ‘tudo vai se resolver no tempo certo’”, conta a esposa.
As viagens e programas eram uma constante para Yasuyoshi e Lúcia, e a praia já havia se tornado o lugar preferido dele. Tanto que fazia planos de mudar-se para o litoral depois que se aposentasse. Ubatuba, em São Paulo, era destino frequente para a família e acabou marcando seu último banho de mar, durante as férias intensamente curtidas.
“Ele amava tirar fotos”, comenta, “temos registros de todos os lugares que visitamos”. Iam ao Nordeste a cada dois anos, inclusive para saborear os temperos locais que agradavam ao paladar de Yasuyoshi. “Não gostava da comida japonesa, preferia a culinária baiana". Apreciava ainda a típica feijoada brasileira e tinha o hábito corriqueiro de frequentar padarias, de onde sempre trazia pequenas bandejas de docinhos e guloseimas.
Manteve o trabalho mesmo depois de aposentado, mas aproveitava o tempo mais livre para saídas com a esposa. Os dois estavam animados para comemorar o novo momento de vida e, durante um passeio pelo interior paulista, inclusive renovaram as louças da casa, para usufruir nas reuniões com a família. “Ele quis fazer o meu gosto, compramos tudo combinando”.
A saudade aperta quando Lúcia lembra o carinho, o abraço e o bom dia alegre do marido. “Tudo é muito vivo dentro de mim, foi maravilhoso o que ele sempre me proporcionou”. E ela declara: “Te amarei eternamente, paixão”! Paixão: assim se chamavam mutuamente, por uma vida!
Yasuyoshi nasceu em Okinawa, Japão e faleceu em São Paulo (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Yasuyoshi, Lucia Maedo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 27 de abril de 2022.