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Zeíla Duarte Lopes

1934 - 2021

Delicada, elegante e amorosa, era Zeíla a "cola" que unia a todos.

Costureira de mão cheia, transformava qualquer pano simples numa obra de arte.

Cativou muitos corações ao longo da vida, mas um deles foi mais especial. Manoel, o professor particular de matemática, encantou-se com a timidez e a simpatia da aluna, isso sem contar a beleza incrível. Depois de sete anos, quando o professor se mudou definitivamente para Londrina após ser aprovado em um concurso, decidiram que era hora de um passo importante e se uniram em matrimônio. Unidos em amor, já estavam fazia tempo.

A primeira filha do casal levou nove anos para chegar, mesmo com tratamentos constantes. Mas isso não fez o casal desanimar, e para provar que nenhum problema é eterno e as surpresas da vida são raras, mas lindas, dois anos depois o segundo filho veio de forma natural.

Enfrentou muitas dificuldades ao longo da jornada. A vida sempre foi modesta, e com a perda da casa ficou um pouco mais amarga. Em 1985, perdeu o grande amor Manoel num terrível erro médico, e uma parte de si também se foi com o amado. Enfrentou ainda problemas de droga na família, e um câncer pareceu abalar ainda mais a estrutura familiar. Mas Zeíla não se deixou abater, recomeçou outra vez e, como as flores que cuidava, floresceu novamente.

Aprendeu um pouco sobre perdas e muito sobre viver. Soube dar bons conselhos e ouvir outros melhores ainda. Forte e resiliente, era uma mulher que não tinha medo de recomeços.

Apesar de não ser sua profissão, era uma costureira de mão cheia. Em suas mãos, agulha e linha viravam ferramentas para as obras de arte que ela fazia com o dom da costura. Aprendeu a pescar com as crianças. Descobriu no passatempo um amor. Era apaixonada pela pesca. Tinha incentivo para participar de viagens e excursões de pescaria. Descobriu que as aventuras à beira do rio eram a própria felicidade.

Mãe da Silvia e do Sérgio, avó da Beatriz e do Emanuel, com muitos filhos e netos postiços ao longo da vida, Zeíla deixa uma saudade alegre e suave como ela sempre foi. Apesar da partida, ela se eternizou. Viverá para sempre nos corações que dividiram a vida com ela e que aprenderam a recomeçar. De lá, Zeíla foi florescer em outro jardim e enfeitar o céu com sua beleza de flor.

Zeíla nasceu em Humberto de Campos (MA) e faleceu em Londrina (PR), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Zeíla, Silvia Helena Duarte Lopes. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 21 de março de 2021.