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Zenaide Bigarani

1960 - 2021

Sua gargalhada contagiante alegrava os encontros de família e os habitantes da pequena Tabapuã.

Tabapuãnense genuinamente radiante, Zenaide era conhecida por todos no pequeno município do interior paulista, do qual nunca se desgarrou. "Minha mãe era uma estrela na cidade e amava política. Tanto que na eleição de 2020 candidatou-se a um mandato de vereador, mas não se elegeu", conta, rindo, Daniela, a filha caçula.

Mãe de três, Zenaide ficou viúva ainda jovem e criou Daiani, Daniel e Daniela praticamente sozinha. Revezava-se no papel de mãe e de pai enquanto trabalhava no hospital. Foram mais de vinte anos nessa toada para nada faltar aos rebentos. "O relacionamento de mamãe com a gente era muito bom. Embora eu morasse um pouco longe nos últimos anos, na cidade paranaense de Maringá, a gente se falava todos os dias. Ela gostava de mandar aqueles áudios bem longos, anunciando tudo o que fazia, e fotos mostrando tudo o que comprava e assim eu também respondia", revela a caçula.

Comunicativa, Zenaide logo tirou partido das redes sociais. Nas horinhas de descanso, conectada a uma rede social, entabulava conversas com quem nem sequer conhecia pessoalmente, como se fossem velhos amigos. "Mamãe fazia amizade fácil. Ela falava bem alto e tinha uma gargalhada gostosa e contagiante. Quando ela ia a algum lugar pela primeira vez, puxava papo com qualquer pessoa, tagarelando sobre a infância, sobre os meus avós e sobre a escola na qual estudou".

Fã de séries dos canais fechados e dos churrascos em casa, Zenaide enchia a geladeira com as guloseimas preferidas de cada filho e da neta Lavínia, seu mais novo grande amor. Passeadora, todos os anos ia até Maringá rever a filhota. Só não veio no auge da pandemia. "Espera passar", dizia mamãe, sem perder o bom humor.

Autenticidade era a marca registrada de Zenaide, além, claro, da mania de limpeza. "A qualquer momento do dia lá estava ela com um paninho", lembra a caçula. A mãe zelosa gostava de ver a casa brilhando aos moldes da dona, cuja simpatia encantava quem estivesse ao seu lado.

"Difícil falar da minha mãe sem mencionar a alegria dela. No dia em que partiu, não houve velório com despedidas, mas ela recebeu diversas homenagens em seu perfil numa rede social". O fato é que ninguém queria acreditar que aquela mãe de família popular e querida não faria mais parte da rotina da cidade, que segue um pouco sem graça — sem a graça de Zenaide. "Mamãe era uma figura extraordinária, reconhecida nas ruas. Foi um privilégio ter uma mãe que sabia viver intensamente. Tenho orgulho e me sinto honrada por ser filha dela".

Zenaide nasceu em Tabapuã (SP) e faleceu em Tabapuã (SP), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Zenaide, Daniela Cristina Rampazo. Este tributo foi apurado por Larissa Reis e Karina Zeferino, editado por Luciana de Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 5 de setembro de 2021.