1940 - 2020
Encantadora, de voz serena. Nunca brigou com ninguém e era querida por todos.
Zenaide nasceu em uma pequena cidade de Mato Grosso do Sul. Ela sempre dizia que nasceu no dia de Santa Rita e que seu nome deveria ter sido Rita.
Filha de agricultores que vieram do Sul, era a filha mais velha de oito irmãos, que levavam uma vida bem simples e feliz. Sempre contava histórias de suas travessuras com seus irmãos na lavoura e no rio. Na juventude, fez amizades que permaneceram a vida inteira e adorava estampas, cores vivas e batom vermelho.
Teve um filho, um casal de netos, e outros filhos, netos e bisnetos de coração. Ai de quem comentasse algo negativo de um deles! Dedicou sua vida para cuidar da família e todos à sua volta.
A cozinha era utilizada para demonstrar o seu amor. Passava manhãs inteiras preparando comida com maestria. Tortas, bolos, roscas, pães, pastéis, sopa paraguaia, guisadinho de mandioca, arroz carreteiro, bobó de galinha, lasanha, nhoque, farofa... mesmo o simples arroz com feijão era o melhor do mundo.
À tarde, se sentava na sua poltrona com uma cuia de mate e uma garrafa térmica. Quando seus netos estavam em casa, algumas vezes lhe acompanhavam, para agradá-la. Quando um chegava de viagem, era convidado para tomar mate doce ou Amarula, que adoravam.
À noite, assistia todas as novelas, mas também gostava de assistir futebol. Torcia para o Corinthians e, durante os jogos, resmungava com os jogadores.
Zenaide morava com seu filho em São Paulo e, mesmo com quase 80 anos, era uma pessoa muito ativa. Saía para almoçar com as amigas da hidroginástica, que praticava quase diariamente, e, ainda que seu filho fizesse as compras pesadas, ia ao supermercado quase todos os dias para passear, nem que fosse para comprar apenas um produto e conversar com as caixas, que ficaram suas conhecidas.
Além de Santa Rita, ela tinha uma relação próxima com outros santos. Sempre teve muito medo de tempestade e, quando relampejava, pedia ajuda para Santa Barbara e corria para ligar para a neta. Quando alguém não encontrava algo, ela pedia para São Longuinho e cobrava os três pulinhos quando o item era achado.
Despedidas eram o seu ponto fraco. Toda vez que recebia algum familiar de fora, ficava com o choro preso na garganta quando ia embora. Quando toda a família dormia em casa, ela dizia que era sua maior felicidade. Ela ficava em paz.
Seu filho e seus netos tiveram a honra de tê-la na família. Mantiveram um amor insubstituível e uma cumplicidade que parecia de vidas passadas - e que provavelmente os conectarão nas próximas vidas.
Zenaide nasceu Ponta Porã (MS) e faleceu São Paulo (SP), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Carolina Lenoir, em entrevista feita com neta Michelle Oliveira Vieira, em 6 de junho de 2020.