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Antonio Marcos de Oliveira Sousa

1973 - 2021

Ele sempre dizia “eu sou um sonhador!” quando se referia ao amor, à educação e à ação.

Ingrid Luisa, jornalista e filha de Antônio Marcos, valendo-se de sua amorosidade, homenageou seu querido pai com o seguinte texto:

“Vocês sabiam que as estrelas morrem? Apesar de imensas, exuberantes, e uma fonte única de energia e vida, elas também têm um ciclo que acaba no inevitável para todo mundo. Geralmente as estrelas morrem devagar. O Sol, por exemplo, vai se esvair num processo longo de mais de 8 bilhões de anos.

Porém, as mais brilhantes estrelas, aquelas maciças, que emanam luz por todos os lugares, não definham lentamente. Num estágio avançado de sua evolução, no seu ápice, elas explodem. E o brilho dessa explosão é tão luminoso e tão potente que é capaz de ofuscar galáxias inteiras. Para vocês terem uma ideia, essas estrelas maciças liberam nessa explosão mais energia do que o Sol será capaz de emitir durante toda sua vida. E esse fenômeno é conhecido como Supernova.

Meu papai, Antônio Marcos, era uma estrela. Dessas maciças, muito brilhantes, que ocupam todos os espaços com sua luz. Ele amava admirar o céu, estudar as constelações, tirar fotos da lua, porque sabia que era familiarizado com tudo ali.

O tempo dele aqui foi uma passagem e um presente. Todo mundo que conheceu o papai sabe como a presença dele era gigante, trazia alegria, empolgação e vida para todos os lugares. Falando em vida, a estadia dele por aqui foi imensamente feliz. Nos quase 48 anos, ele se casou com o amor da sua vida, teve três filhos que cuidou com a maior dedicação do mundo, e dos quais dizia ter muito orgulho, e criou projetos sociais que ajudaram milhares de famílias.

Porque o papai acreditava no amor, na educação e na ação acima de tudo. Com uma mente brilhante, que não parava de ter ideias nem por um segundo, ele sempre dizia que queria revolucionar o mundo, e conseguiu. Devoto de São Francisco, ele carregava esse lema dele: comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.

Toda a família e amigos sentem um silêncio, uma dor e um vazio enorme. Como a estrela maciça que era, ele partiu em uma supernova, numa explosão rápida, fugaz, inesperada. Mas com a certeza de que o brilho dele ainda vai ecoar por décadas e décadas e décadas.

A dor que estamos vivendo, em especial, não é uma dor solitária. Quem perdeu um parente para a Covid-19 não sente apenas uma dor, sente a dor de mais de quinhentas mil famílias que estão passando pela mesma situação que a gente. E a maioria com muito menos condições, louros e homenagens aos seus entes queridos. Deixo aqui, em nome do papai, uma saudação a todos eles. Sei que Deus acolheu essas vítimas com carinho. E se há justiça divina, os governantes responsáveis por esse genocídio hão de pagar.

Para finalizar, queria deixar as palavras de uma oração. Durante os momentos de dor e incerteza, antes da partida dele, eu e minha irmã Hannah rezamos todo dia essa oração, à Nossa Senhora da Saúde. E ela diz exatamente o que precisamos ouvir agora:

Intercede, Mãe querida, para que o Teu filho cure as nossas dores;
transforme as nossas lágrimas em oração;
e os nossos sofrimentos em momentos de crescimento;
converta a nossa solidão em contemplação;
e a nossa espera em esperança;
nos fortaleça na hora da agonia;
e transforme a nossa morte em ressurreição.

Obrigada, pai.”

Antonio nasceu em Teresina (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Antonio, Ingrid Luisa Aguiar Sousa. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ingrid Luisa Aguiar Sousa, revisado por Vera Dias e Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2023.