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Benedito Herculino de Oliveira

1934 - 2020

A criança que habitava dentro dele o fez aproveitar a vida intensamente.

Foi um ser humano cheio de disposição, dono de um bom humor e de uma paz de espírito que contagiavam a todos.

Desde o seu nascimento soube o que era ter que lutar pela vida. E essa superação está registrada em seu nome, através de uma promessa feita pela mãe a São Benedito: “Ele nasceu muito fraco, mas caso sobrevivesse receberia nome de santo”. Benedito se recuperou, ficou forte, cresceu e então recebeu a bênção.

Serviu o Exército em Corumbá, no Centro-Oeste do Brasil – e, na primeira oportunidade que aparecia, adorava contar as inúmeras histórias vividas nessa época. Anos mais tarde precisou encerrar as missões militares e foi dedicar-se ao corte de cana.

Nessa nova fase da vida, conheceu a dona Jenny. Juntos trabalharam, cultivaram o amor e tiveram seis filhos. E, como num suspiro, perderam dois dos filhos. Um deles em seus braços.

“Foram mais de 60 anos de casamento. Mesmo com todas as perdas, nunca se deixou perder a alegria. Adorava contar piada, pescaria. Ah, seu Dito, saudade até da sua teimosia. Ao ser internado, suas últimas palavras foram: ‘Deixa o telefone, pra quando eu sair vocês virem me buscar’. Não deu tempo, meu pai”, conta, emocionada, a sua filha caçula, Michelle Cristina.

Sempre tão animado e cheio de vida, adorava fazer festa em seu aniversário. Nesse momento, sua criança interior vinha à tona através de toda a sua empolgação. Era hora de se realizar, já que na infância nunca pôde ter uma festa assim.

Também era um apaixonado pela dança. “Se eu saio pra trabalhar debaixo de chuva, posso sair pra dançar também!”, dizia ele nos dias de diversão.

Seu Benedito foi mesmo um homem de muita fibra, otimismo e determinação. Também teve o nome mais bonito e soube amar e viver como se não houvesse amanhã, tal qual cantou Renato Russo.

Todo seu legado continuará ecoando por gerações. E seus ensinamentos, compartilhados dia após dia, seguirão direcionando aqueles que tiveram a graça de viver ao seu lado.

Benedito nasceu em Igarapava (SP) e faleceu em Ribeirão Preto (SP), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Benedito, Michelle Cristina de Oliveira. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Thiago Santos, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.