1949 - 2020
Como sustento: tesouras e mãos mágicas. Já para os seus, como marca, ficam a alegria de viver e um amor lindo.
Aos 17 anos, deixou Tubarão, em Santa Catarina, para trabalhar em Curitiba e, desde então, a linda cidade passou a ser o seu lar.
Foi onde, além de se estabelecer financeiramente, montou suas raízes afetivas. Casou-se com Noeli, com quem estava prestes a completar as bodas de ouro. Com sua companheira de uma vida, criou os filhos Denise, Daiane e Diego.
É o caçula, Diego, quem fala sobre o jeito do pai: "Ele era bastante ativo, não conseguia ficar muito tempo parado no lugar... sempre andando de um lado para o outro. Tinha o hábito de, ao final do almoço, aos domingos, levar as netas, Anna Luisa, Maria Eduarda e Victoria a uma panificadora e comprar doces para as meninas. Elas amavam... e os dentistas também, claro!"
Cid Soares, como era conhecido, era um homem de pouca estatura ─ tinha 1,60m de altura, mas um sorriso e uma alegria que, com certeza ocupavam um metro quadrado enorme e um espaço afetuoso importante ao redor da vida de todos que o conheciam.
Um careca que não precisava ser o próprio cartão de visita em seu negócio. Afinal, já era estabelecido no mesmo endereço, em sua atividade há cinquenta anos. O que, para esses tempos difíceis, era um sinal bem-afortunado. Cid seguia em seu ponto tradicional, com sua barbearia, cortando cabelos e fazendo barbas com dedicação.
Segundo Diego, o pai não se importava de trabalhar duro. Nesse tempo todo, não saiu do mesmo bairro, na mesma rotina: de segunda a sábado, das 7h30 às 20h, em pé. Além de incansável, era uma pessoa bondosa e humilde.
Seu jeito de ser transmitia sua excepcional alegria de viver. E Cid era admirado e respeitado pelos amigos e familiares. Aos quais ele, reciprocamente, tinha sempre um gesto ou palavra de apoio.
"O prazer do meu pai era ficar com a família aos domingos, seu dia de descanso. Sempre foi um pai e esposo amoroso que dedicou a vida a criar nossa família com muito amor e alegria", relembra o caçula.
Essa família incluía com o mesmo carinho e apreço, o genro Laércio e a nora Wal, que era uma ótima companheira de conversas e ouvinte das histórias e piadas do sogro. Já Laércio, era o parceiro dos programas e papos de futebol. Mesmo Cid sendo corintiano, adotou o palmeirense como filho.
Diego despede-se dividindo sua enorme saudade: "Fiz um quadro com uma foto dele para homenageá-lo e adoraria mostrar a todos meu grande pai. Lamento por sentir hoje que gostaria de ter dito muito mais a ele. Meu pai ficou sessenta dias em isolamento, o que, com sua atividade, fez com que ele caísse em depressão. Quis o destino e suas tramas que ele fosse parar no hospital e, antes ou depois, o maldito vírus o roubasse de nosso convívio em pouco tempo.
Quando partimos juntos na ambulância, a caminho do hospital, às 3h45 da madrugada, ele estava consciente e respondeu ao meu chamado, mas, em seguida, engatou num choro sofrido. Tentei animá-lo com uma brincadeira: 'Vai chorar com duas enfermeiras bonitas ao seu lado?' E, naquele momento, vi seu último sorriso, que guardarei com todo meu amor e saudade."
Cirino nasceu em Tubarão (SC) e faleceu em Curitiba (PR), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Cirino, Diego Linhares Soares. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de novembro de 2020.