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Douglas Aparecido dos Santos

1988 - 2020

O único palmeirense da casa, sempre campeão no quesito paternidade e brincadeiras.

Douglas foi um lutador que nunca abandonou o bom humor nas batalhas. Para a família, ele era o Dô. Brincalhão, deixava o sobrinho mais velho, Gustavo, desconcertado e nervoso com tanta zoação. Com os outros três filhos da irmã, também fazia a festa. "Todo mundo tem sentido falta do tio Dô", conta dona Antonia, sua mãe.

Seus últimos quatro anos foram de luta contra o câncer. Cuidava dos três filhos, Kayky, Enzo e Thales com muito amor mesmo durante a batalha.

Ela conta que o filho podia ter defeitos como homem e filho, mas como pai era perfeito. A cada internação, ligava de cinco em cinco minutos para ver os filhos nas videochamadas. Amava jogar videogame e ficar no computador com o trio.

Hoje, Enzo reza por Douglas toda noite, sempre finaliza com: "Dorme com Deus, pai". Ele e o caçula chamam pelo pai à noite, nos sonhos, dormindo... O primogênito chora bastante e adotou um antigo hábito de Dô: leva uma caixinha de som para o banho, ouve os clássicos sertanejos que o pai ouvia, principalmente as canções de Leonardo.

Era o sertanejo que embalava o sono dele e da irmã quando crianças, Dô cresceu gostando do cantor goiano e de outros do mesmo estilo, como Zezé di Camargo e Luciano.

Tinha três irmãos e tinha um bom relacionamento com todos. Na casa, era o único palmeirense em meio a corintianos. Sofria em dia de clássico, mas quando o Palmeiras vencia, dava o troco. Ele era apenas um, porém, forte na zoação. As brincadeiras dele valiam por muitas.

Agarrado à mãe, ligava para ela constantemente. "Douglas, a mãe tá ocupada agora, não posso falar", dizia Antonia. Porém, ele ligava no máximo 10 minutos depois para conversar, de tão apegado que era.

Com quase dois metros, preferia a sala ao quarto para se deitar. O espaço era pequeno e ele tomava conta do espaço. Mas não adiantava ninguém falar, era uma mania e tornou-se sua marca.

Apesar do tratamento oncológico, estava bem, contrariando os prognósticos médicos de poucos dias de vida. Após passar por uma cirurgia, Dô se recuperou e sua rotina estava mais tranquila.

"Minha casa é pequena, morava todo mundo aqui. Mas a casa ficou grande demais sem ele", afirma Antonia.

Douglas nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 31 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela mãe de Douglas, Antonia Aparecida Isidoro. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de abril de 2021.