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Genesio Brisotti

1938 - 2021

Seu abraço era tímido, mas estava sempre pronto para escutar e festejar as conquistas das filhas.

"O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora", quando chegar a água da saudade dos olhos das sete filhas, dos sete netos, das duas netas e do primeiro bisneto de Genesio, Nésio, Né ou Brisotti — um patriarca na melhor definição da palavra. "Meu pai foi um homem honesto e trabalhador. Passou a vida plantando e colhendo no sítio da família, de ascendência italiana", conta a filha Élida.

Nascido em um município pequeno, Brisotti era um legítimo homem do campo, de vida simples e de família numerosa. Casou-se com Inês e, juntos, geraram sete filhas. "Os sete genros sempre tiveram por ele muita consideração e respeito", pontua a filha. O casal completou bodas de ouro e seguiria junto até o fim, com Nésio cuidando da esposa, diagnosticada com Alzheimer havia três anos. "Ele era o porto seguro da minha mãe, estava todo o tempo ao lado dela. Eram grandes companheiros", recorda.

Mesmo aposentado, Né seguia na rotina de cultivar a terra. Apreciava colher as verduras e os legumes na horta que plantou e também reservava um tempo para manter os jardins do sítio bem vistosos. Segundo Élida, o pai era orgulhoso e não gostava de pedir nada para ninguém — e, na verdade, não precisava.

Aos 82 anos, seguia ativo, lúcido, saudável e independente. "Ultimamente, ele curtia muito os netos. Adorava comemorar a vida, estar junto da família nos almoços e nos churrascos", acrescenta a filha que, desde cedo, aprendeu com o pai a ser responsável e a lutar para alcançar os objetivos desejados. "Papai era um homem digno, correto, afetuoso, carinhoso e sonhador. Ele ficava super feliz com as conquistas das filhas."

De poucas palavras, mas dono de uma escuta sensível e atenta, Brisotti estava sempre disponível para ouvir as novidades das suas sete meninas. Era também um bom conselheiro sobre os futuros projetos da prole. Discreta e diariamente, Élida afirma que o pai guiava seus descendentes como um farol. Protetor e forte, Nésio era a própria viga de sustentação da casa.

"Ah, pai, que saudades de ouvir sua voz, do seu abraço tímido. Saudade até das suas reclamações. Obrigada por cada ensinamento, por todo zelo e carinho. Você não é só mais um número nesta triste estatística. Você é e sempre será o meu pai, o meu grande amor."

Genesio nasceu em Laranjal Paulista (SP) e faleceu em Piracicaba (SP), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Genesio, Élida Brisotti. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Luciana Assunção, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Larissa Reis em 24 de setembro de 2021.