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Jacinto de Souza

1938 - 2020

Construiu casa para cada um dos vinte filhos.

"Não importava a hora: toda vez que alguém chegava na casa dele, tinha comida e café preto fresquinhos. Parecia que você estava em Minas Gerais, só que era em São Paulo", revela a filha Aparecida Raquel. Mineiro de nascimento e paulista de coração, Jacinto casou-se três vezes e teve vinte filhos.

Trabalhador como ele só, enfrentou diversos obstáculos que a vida colocou em seu caminho. Enviuvou três vezes e, por isso, assumiu e criou as duas dezenas de filhos com muito suor e dedicação. "Nunca vi um homem igual a ele. Cuidou de cada uma das esposas com amor. Era do tipo que levava café da manhã na cama e defendia que o homem pode ficar sem dinheiro no bolso, mas a mulher, não. Para o meu pai, o salário do homem tinha que ficar na mão da companheira", lembra Raquel.

Jacinto exerceu várias atividades profissionais e se aposentou como faxineiro. Budista, era uma pessoa de fé, que buscava ser a moradia de quem procurava abrigo. "Meu pai conseguiu construir casas para todos os filhos. Sinceramente, não sei como deu conta. Ele fazia questão de ser justo e íntegro", relembra a saudosa filha. "Sempre nos ensinou que a integridade não tem preço e que o nosso nome vale muito. Desistir não era opção e que jamais devíamos pegar nada de ninguém. Honestidade em primeiro lugar".

Nas horas livres, Jacinto sonhava em ficar rico. Costumava apostar na loteria oficial e no jogo do bicho. Seu maior orgulho era nunca ter tido o nome "sujo" e não ter deixado faltar nada dentro de casa. "Ele só foi ter cartão de crédito em 2018", conta Raquel.

De hábitos simples, o pai e avô acordava às seis da manhã, preparava o próprio almoço por volta do meio-dia e se deitava às 20h. "Meu pai limpava, lavava e cozinhava. Ele sempre estava à disposição".

Apaixonado pela vida, Jacinto comovia-se com facilidade. Segundo Raquel, o pai vibrava quando alguma filha ou vizinha engravidava. "Ele ficava superfeliz, pois achava mulher grávida a coisa mais linda. 'Filho é sinal de saúde', costumava dizer".

Intenso, generoso, chorão, disposto, solidário, exemplar. Muitos são os adjetivos para traduzir alguém que carregava sentimento até no nome: já sinto. "Meu pai era genial. Em resumo, o melhor pai do mundo!"

Jacinto nasceu em Presidentes Bernardes (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Jacinto, Aparecida Raquel Souza Barreto. Este tributo foi apurado por Ana Helena Alves Franco, editado por Luciana Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de outubro de 2021.