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João Batista Gama

1942 - 2020

O amor era tão genuíno que persistiu para além da vida, João e Nildinha viajaram juntos rumo às estrelas.

João Batista Gama e Amazonilda de Freitas Gama protagonizaram, aqui na Terra, uma história de amor que nem o coronavírus foi capaz de separar.

João era louco por sua Nildinha. Onde estava um, estava o outro. Ele teve a honra de ser recebido por sua amada lá, no destino da derradeira viagem, foi morar com ela e junto aos anjos.

Os quase 54 anos de casamento foram construídos sobre alicerces de lealdade, parceria e fé compartilhada em Deus e em Nossa Senhora Aparecida. João e Nildinha eram um exemplo a ser seguido por todos os outros membros da numerosa família.

João foi um filho amoroso, era com prazer e honra que zelava pelos pais e pelos irmãos. Tinha um jeitão sério, mas era só de fachada. “Tio João era um amor de pessoa, tinha um coração que não cabia no peito, era só bondade!”, conta a sobrinha Nirla, que lembra dos tios com imensa saudade e gratidão.

Tiveram filhas gêmeas: Joca e Beide e quatro netos, Robert Willian, Beatriz, Jean Lucas e Giovanna. Mas o coração de João era maior que ele próprio; por isso, além das filhas biológicas, considerava todos os sobrinhos como filhos do coração.

João e Nildinha estavam o tempo todo juntos, amavam-se tanto e com tal profundidade que viviam dizendo que “Quando um partir, o outro parte também”. João chorava de saudade quando Nilda foi internada; pedia para que o levassem de carro para, ao menos, passar em frente ao hospital. Até que também adoeceu.

A sobrinha Nirla era apaixonada pelos tios, conta que o casal vivia planejando passeios, amavam viajar. Mas, sobretudo, amavam-se! “Nunca os vi de cara feia ou brigando”, lembra Nirla.

João casou-se com a matriarca da família Freitas. A vida toda teve a honra de sediar, em sua casa, uma espécie de tribunal da família de Nildinha. Os manos e manas — que era como se tratavam, amorosamente, os irmãos de sua esposa, não davam nenhum passo importante sem antes consultar a irmã querida. Nilda tinha o dom de ser firme e afável ao mesmo tempo, era a luz na escuridão; ninguém saía de lá sem um conselho sábio ou uma palavra de conforto.

Queria ver João feliz? — Era só ter a sua casa cheia.

O Natal era sempre lá, assim como as festas de final de ano, as comemorações juninas e muitos aniversários. Era uma fartura que só vendo! Fartura de gostosuras, de uma baguncinha boa e, principalmente, de muito amor. Acredita que quando o neto Robert Willian se casou, foram os avós que entraram na igreja carregando as alianças?

João aprendeu com Nilda a ser o Papai Noel dos mais de 20 sobrinhos. Na época em que todos eram pequenos, a hora mais alegre da noite de Natal era quando os tios chegavam carregando um saco enorme, cheio de presentinhos. Eram brinquedinhos simples, mas eram dados com tanto carinho, que eram recebidos como verdadeiros tesouros.

Quando João foi ter com Nilda no hospital, mesmo sem que ela soubesse que ele havia sido internado, os médicos e enfermeiras testemunharam um interessante fenômeno: quando um melhorava, o outro melhorava também; mas se um dos dois piorava, o outro piorava igualmente.

A família, impossibilitada de dar aos amados tios uma cerimônia tradicional de despedida, organizou em cortejo de carros, que foi desde o hospital até o local do sepultamento. Participaram da homenagem quatro padres que, além de conselheiros espirituais, eram amigos do casal tão atuante junto à Igreja de Nossa Senhora.

Cada membro dessa comunidade familiar, que foi formada à luz de valores tão raros hoje em dia, como: respeito, comportamento ético, honestidade, lealdade, amor ao próximo e compaixão; compromete-se em manter a tradição da união fraterna, ensinada com maestria por João e Nilda, que agora estão numa viagem muito especial, junto aos anjos e à Nossa Senhora.

Para ler a homenagem à esposa de João Batista, procure neste Memorial por Amazonilda Freitas Gama.

João nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de João, Nirla Freitas. Este texto foi apurado e escrito por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.