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João Valério da Silva

1958 - 2020

Um dos pilares da família. Gostava de jogar sua rede ao mar, junto com os problemas, colhendo sardinhas e paz.

Quem conta esta história é André, o irmão de João:

A história começa com o Sr. Gedival, ou melhor, "Seu Mineiro". "Gedival conheceu minha mãe quando eu tinha 3 anos e criou-me como um pai. Sempre será meu pai! Assim como sempre serão meus irmãos, Diel, João, Roberto, Neide, Nilce, Nilde e Andréia... a minha família!"

"João tinha a idade da minha mãe. Um coração generoso, uma eterna inspiração para mim. Ajudou a me educar do seu jeito. E claro, com seu gosto: afinal, um flamenguista fanático, não admitiria que seu irmão caçula tivesse outro time! Então, juntos aumentamos a nação rubro-negra."

Começou a trabalhar muito novo. Foi entregador em farmácia e, como era dedicado, acabou virando balconista. O tempo passou... João foi promovido e passou muitos anos de sua vida gerenciando farmácias. O irmão conta que "ele gostava de seu ofício (...) nem mesmo os cinco tiros que levou, em um assalto no trabalho, o abalaram. Ele seguia, como acreditava, com a proteção de Deus".

Seu Mineiro tinha em João uma voz presente, de muito respeito, e transmitiu isso aos demais filhos. Era um cara do bem, sempre disposto a ajudar os outros, sem querer nada em troca.

"Esposo dedicado, pai de um casal de filhos, esses sim deram trabalho ao meu irmão. Mas ele era um guerreiro e nunca desistia de sua batalha, buscando o melhor para ele e sua família. Teve a benção de ter uma neta, e através dela, descobriu um amor sem tamanho, que lhe fez um bem enorme", continua André.

João amava pescaria e adorava curtir esse lazer com sua família paterna. Ele e os irmãos saíam de madrugada, pelo simples desejo de pescar sardinha. Jogava sua rede entre os postos 5 e 6, em Copacabana, e lá era seu refúgio... a fuga do cotidiano.

Então, veio o Parkinson, que debilitou sua saúde. Mas João jamais esqueceu da pesca — era a sua paixão.

Com algumas decepções pessoais, sua saúde foi ficando ainda mais debilitada. "Os homens da família sempre foram muito unidos e João era um de nossos pilares. Então, sempre o amparamos. Sua força vinha também de sua neta, que ele sempre queria por perto. Mas parece que ele sabia de seu destino", conta o irmão, que complementa: "Acreditamos que seus passeios à praia, justamente para se isolar dos problemas que vinha enfrentando, tenha sido responsável por sua contaminação. Passou por dias horríveis, mas enfim Deus o libertou do mal que o atormentava (...) É difícil entender, mas Ele sempre sabe o que faz".

João deixa, além dos irmãos citados, mais três, por parte de mãe. Além deles, deixa sua mãe e Seu Mineiro, para o qual André diz que foi muito difícil dar a notícia, em razão da idade avançada e da proximidade de ambos.

"Irmão, dói muito no peito a falta que você me faz! Você me ensinou muito! Deus cuidará de você!", despede-se André.

João nasceu em Manhumirim (MG) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo irmão de João, Andre Luiz Alvez dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 20 de julho de 2020.