1930 - 2020
Um baiano exigente que ajudou a erguer São Paulo.
Foram mais de 60 anos morando em São Paulo. José Abílio dos Santos deixou o sertão da Bahia, quase na divisa com Sergipe, por volta da década de 1950 para construir sua vida na cidade grande. Mais que isso, ele ajudou a construir a cidade grande. Pedreiro, mestre de obra, era um apaixonado pela construção. Quando precisava ir ao Centro, gostava de mostrar os prédios e viadutos que ajudou a erguer.
Numa cidade em que todo mundo parece viver em cima da hora, Abílio zelava pela pontualidade. Não aceitava atrasos, era capaz de fazer a pessoa voltar para a casa se não chegasse no horário. "O combinado era 8h00, não 8h20. Pode voltar e amanhã vê se chega no horário", relembra o sobrinho Valmir.
Valmir é um dos quase 30 sobrinhos que Abílio tinha. O sergipano sempre vinha visitar o tio em sua casa na Chácara Santo Antônio, zona sul da capital paulista. Um pedacinho verde no meio de todo o concreto que deu sustento a Abílio por décadas. A casa tinha árvores, plantas e recebia visitas de pássaros diariamente.
Era ali que Abílio relembrava a vida na roça e as obras de que tinha tanto orgulho. Ao menos uma vez ao ano ia para Sergipe, matar a saudade do sertão, da família e também para renovar o estoque das comidas que nunca deixou de amar: o queijo, a castanha de caju, a farinha de mandioca.
Se Abílio ajudou a construir São Paulo, São Paulo também construiu Abílio. Em seus últimos dias, já internado por conta da Covid-19, estava incomodado com a comida do hospital. E impaciente. Com certeza sairia dali e iria para a padaria na rua ao lado de casa para comprar o seu pão francês. Mais paulistano impossível.
José nasceu em Serra Negra (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de José, Valmir Paes da Costa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Cleberson Alcântara dos Santos, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 20 de agosto de 2020.