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Leine Lelis de Souza Guimarães

1932 - 2020

Falava as verdades com a leveza de uma pluma e com uma profundidade oceânica.

Leine, com um “i”, para não esquecer sua história e originalidade, foi professora. Valorizava o conhecimento como ninguém e dizia que poderiam tirar tudo dela, menos isso.

Participou da formação de Urucaraenses que levaram seus ensinamentos para as suas vidas, a de seus filhos e netos, principalmente a linguagem do respeito. E ela era uma dedicada professora que ensinou pelo respeito, pela ética e também pelo português, inspirando alunos e alunas a serem professoras e cultivarem esses sentimentos. Esse foi o caso de Etelvina, que sentia tamanha admiração por Professora Leine e seu bem-falado português, que seguiu a profissão dos ensinamentos. Ela diz que "Professora Leine cantava o Hino Nacional com eloquência e de maneira admirável, de uma forma que todos adoravam". Como Etelvina, outros alunos, Arnoldo e Ana Lívia, também foram influenciados pela professora Leine e afirmam que levarão seu legado pela vida toda.

Com o tempo, seus passos foram se tornando mais curtos, mas sua mente estava ativa e brilhante até o fim.

Sóbria, franca e altiva. Era dona de uma personalidade forte e quando estressada, mandava as pessoas para "debaixo da sapateira". Porém, esses momentos duravam pouco, pois ela possuía um coração enorme e um caráter ímpar.

As portas de sua casa estavam sempre abertas. E foi assim que Dona Leine também ganhou inúmeros filhos de coração, amigos seus como Vivaldo, Víviane e Bosco, que se tornaram da família. Quem entrasse, encontrava seu acolhimento e cuidado.

Era muito religiosa. Lia a Bíblia todos os dias, ouvia os cantores da igreja e cantava músicas gospel com seus parentes.

Tinha também um hábito: para demonstrar amor, fazia um X no peito, principalmente com os netos, aos quais tinha a maior devoção.

Todos os dias, pela manhã, comia pão com tucumã. Gostava de sorvete de maracujá e cupuaçu em seus passeios pela rua; além de escutar sua coleção de vinil de Noite Ilustrada, Carlos Galhardo e Francisco Alves. Sempre que podia, fazia ligações por vídeo com sua irmã Rute, moradora do Rio de Janeiro, sua maior confidente.

Leine nasceu em Curitiba (PR) e faleceu em Manaus (AM), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Leine, Camila Monteiro. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Alexandre Ramos Costa, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2020.