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Ligia Calixto de Lima

1947 - 2021

Mineira raiz, forte por si só, enfrentou a vida com garra.

Ligia, filha de Joaquin e Almerinda Calixto, era muito mais do que uma orgulhosa habitante de Vila Calixto. Ela foi filha, mãe e pai ao mesmo tempo, bem como foi esposa, irmã, prima, tia e avó. Acima de tudo, Ligia servia a Deus. Chamada do ventre de sua mãe para algo muito grande, como ela mesma dizia, teve que lidar desde muito cedo com inúmeros desafios na vida.

Era uma guerreira exemplar e lutou para criar seus filhos por conta própria, enquanto isso também tentou ajudar a comunidade onde morava, candidatando-se a vereadora numa época em que mulheres dificilmente ocupavam cargos políticos. Enquanto batalhava para dar conforto e alimento aos filhos, auxiliava a população com doações de alimento e assistência médica e dentista.

Construiu sua amada casa com o suor de seus esforços e, enquanto dormia nos entulhos da construção para supervisioná-la, orava pela vida dos filhos pequenos que estavam longe. Com o tempo os filhos cresceram e ela jamais lhes deixou faltar comida na mesa, abrigo e amor. Ela precisava se dividir em todas as Ligias possíveis para garantir que ninguém ficaria desamparado. Autossuficiente, nunca achou que precisasse de alguém para cuidar dela, pois Ligia já era forte por si mesma.

Dedicou sua vida inteira aos outros, mesmo que não reconhecessem seus gestos. A filha Mary Ellen declara que a mãe "enfrentou ingratidão quando merecia amor e compreensão". Ligia decidiu que iria escrever um livro, sua biografia, e assim o fez, publicando “Uma lição de vida”.

Ligia conquistou também seus sonhos. Criou seus filhos, construiu sua casa e fez viagens internacionais ao México, Grécia, Inglaterra e, entre muitos outros lugares, pôde fazer uma das coisas que mais amava: conhecer pessoas e escutar suas histórias de vida. Era uma avó incorrigível, dava balas e doces escondida, cantava canções de ninar e ensinava a bordar. Abriu sua casa para uma plataforma de aluguel de hospedagens e recebeu turistas de todo o mundo, mesmo não sabendo falar inglês, fez de cada visita uma estadia especial e aconchegante.

Ligia deixou um legado, filhos, netos e muita saudade. Mary Ellen termina a homenagem à mãe com a seguinte declaração: "Ela é muito mais do que as palavras podem expressar. Ela é talvez uma das melhores criaturas que já viveu nesta terra. O mundo não estava preparado para o poder que Lígia representava e só quem teve a oportunidade e o prazer de conviver com ela sabe a falta que ela fará. Dizem por aí que uma das melhores coisas que se pode fazer ao partir é deixar um legado. Ela certamente deixou um. Será lembrada por todos, respeitada também, mas acima de tudo, será amada, pois ao subir para o céu, deixou um pouco dela em cada coração que ainda bate na terra. Este é o seu legado."

Ligia nasceu em Resplendor (MG) e faleceu em Vila Velha (ES), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Ligia, Mary Ellen Calixto Teixeira Soares. Este texto foi apurado e escrito por Mylena Calixto Soares, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 17 de maio de 2021.