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Luiz Carlos Zamai

1958 - 2020

Era emoção à flor da pele: tinha sempre os olhos marejados, nos momentos de tristeza e de alegria.

As origens italiana e espanhola não deixavam esconder a fala alta e o jeito beijoqueiro de Luiz. O vozeirão e a risada sonora ocupavam qualquer ambiente com espontaneidade. Ele pouco continha a emoção, seja quando estivesse feliz, ou nas vezes em que a tristeza batia mais forte.

Era o mais velho entre dez irmãos. Para ajudar na casa, começou a trabalhar aos 14 anos, vendendo doces e frutas. Logo depois, arranjou o primeiro emprego formal numa fábrica de vassouras. Seguiu a vida profissional numa fábrica de lenços até passar a ser motorista na indústria gráfica. Os estudos acabaram ficando em segundo plano, mas Luiz esforçou-se para conseguir completar o ensino fundamental.

Em plena juventude, conheceu Maria na casa de um primo, na capital paulista, e logo engatou o namoro com a moça. Apresentou-a para a família, noivou e não tardou a propor o casamento. O filho Felipe também não demorou a preencher a rotina do jovem casal, que, anos depois, ainda assumiu definitivamente a guarda da sobrinha Priscila, a quem eles criaram como segunda filha desde que ela tinha seus sete anos.

“Sempre foi um marido trabalhador, responsável e companheiro no dia a dia”, ressalta Maria. De hábitos caseiros, Luiz gostava de estar em família. Era apaixonado pelos três netos, “um babão”, brinca Priscila. E complementa: “enchia os meninos de beijos e abraços todas as vezes que os encontrava”. Apesar do seu lado afetuoso e alegre, Priscila conta que não passou facilmente pelos rigores do pai durante a adolescência: “ele era bem controlador, não me deixava dormir na casa das amigas nem chegar tarde em casa”, relembra com humor. “Mas foi também um bom conselheiro, pai e amigo”, ela fala.

Dedicado desde bem moço à igreja evangélica, ali aprendeu a tocar trombone e fez das apresentações religiosas, com o grupo musical do qual fazia parte, o seu principal lazer.

Com emoção, Priscila finaliza: “Ele foi embora cheio de Deus, deixou aqui pessoas repletas de saudade, mas com muito orgulho de tudo que construiu e de todos que conquistou. Com certeza, ele sempre nos fará muita falta!”.

Luiz nasceu em Tupã (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha e pela filha de Luiz, Priscila Ferreira de Araújo Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 3 de novembro de 2021.