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Manoel Ferreira Brandão

1943 - 2020

Interpretava a natureza com base na leitura das plantas e no nascer dos frutos.

Homenagem da filha, Marcia, a seu amado pai:

Meu pai, era um homem forte! Forte nas atividades de trabalho de que tanto se orgulhava, tanto quanto nos orgulhava também; foi um comerciante ímpar, de uma honestidade tão pura que beirava a ingenuidade. Forte quando sentia dor e se esforçava para não demonstrar e evitar causar preocupações. Forte quando realizava seus projetos, sempre austero, digno mas de uma doçura encantadora.

Meu pai era um homem forte, porque sempre demonstrava seus sentimentos, se emocionava na simplicidade de suas palavras de carinho ao elogiar a mamãe que sempre amou, admirou e honrou. Meu pai era um homem forte e de uma ternura cativante quando falava das coisas que amava: “Há lugares bons, mas o Ceará é o céu !”, dizia orgulhoso e apaixonado por suas raízes nordestinas. “Meus filhos, não há alegria maior do que ter e poder abraçar todos os dias a mamãe e o papai”, foi seu mais precioso conselho.

Meu pai era um homem forte e também era sábio. Sua força não era só física, a força de espírito também era impressionante. Exibia tanta humildade que poderia se pensar que a leitura e escrita formal tão limitadas poderiam ser uma dificuldade para que ele pudesse interpretar a vida; mas a leitura de mundo era extremamente ampla. Sabia ler até mesmo as folhas, conhecia as curas que a natureza oferecia, amava e se admirava com as delicadezas dela, se emocionava com a florada do pé café, celebrava os pequeninos abacates que surgiam no abacateiro, e a altura que o limoeiro vinha ganhando, a vida brotando da terra cultivada pelas mãos habilidosas dele era um espetáculo de beleza que representava essa união perfeita de força com sabedoria e ternura.

Meu pai era um homem forte, não temia quase nada no mundo, temia apenas duas coisas: a Deus e se orgulhava de sua fé; além disso, temia afastar-se de nós, sua família. Sua força, sabedoria e honestidade foram os recursos utilizados para organizar tudo da melhor forma, nunca nos desamparou.

Em em sua sabedoria, nos ensinou a ser fortes também, mas ainda não aprendemos suficientemente bem, nem a ser tão fortes e nem a ser tão sábios e tampouco preparados para sua partida.

Meu pai era um homem forte, sábio e amoroso como nenhum outro. Seguiremos aprendendo o que foi ensinado pelo meu pai, porque ele nos mostrou o melhor caminho. Seremos sempre gratos pelo privilégio de tê-lo como pai, as recordações dele serão sempre as melhores, pois suas ações equilibravam a força, a sabedoria , a ternura e sobretudo o amor!

Manoel nasceu em Acaraú (CE) e faleceu em Curitiba (PR), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Manoel, Marcia Ferreira Brandão. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 19 de abril de 2022.