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Maria Aparecida Barbosa Vieira

1920 - 2022

Uma mulher que nunca desistiu e que sempre se manteve à frente nos seus 102 anos de vida.

Renata Lamounier, reverencia e faz uma homenagem a avó Maria Aparecida por meio do lindo texto que escreveu em Belo Horizonte no dia 25 de junho de 2022:

“A última vez que te vi foi sábado passado. Você não quis almoçar direito, mas eu disse que tinha trazido picolé e você prontamente disse que iria querer!

Você, hiper disciplinada, sempre fez mais exercício do que era pedido na fisioterapia, sempre atenta a melhorar, sempre sonhando em enxergar melhor, ouvir melhor, andar sem andador. Você estava sempre disposta a aprender.

Você é a pessoa mais obstinada que conheci, a pessoa mais inconformada com o que não tinha jeito que conheci (e realmente não tinha mesmo?), a pessoa mais forte que conheci. Você foi incansável e o incansável te vez viver, sem desistir. Às vezes, chateada por não ter recursos suficientes para viver como queria. Uma mulher à frente do seu tempo e, também, da Medicina!

Você gostava de detalhes, gostava de histórias, gostava de saber sobre o que acontecia com o mundo, comigo, com os outros. “Ahhhh ééé???”

Você se enchia de adoçante, adorava pé de moleque, sorvete, picolé, água de coco, pão, café, lasanha… e viveu 102 anos!

Você, sempre enfeitada, sempre com o cabelo pintado, no sábado me disse: “Não gosto de cabelo branco. Acho feio demais". E depois: “Eu tinha duas perucas antes”. A gente riu, coisa que eu gostava de ver você fazer.

Você economizava. Era muito preocupada e responsável em lidar com o dinheiro.

Gostava das coisas do seu jeito. Tinha o dom do que era “certo”. Era muito teimosa e até nisso era engraçada.

Vó, fico aliviada por você ter passado pouco tempo no hospital, por sua ida ter sido leve, como um passarinho, como você preferia. Dor não combinava com sua personalidade. Não cabia no seu tempo.

Fico feliz pela oportunidade que eu tive em participar mais da sua vida. Por nós, digo ambas aqui, termos nos permitido estar abertas a nos conhecer, a nos aproximar, a gostar uma da outra. Eu me abri pra te ver além (que bom, que oportunidade maravilhosa que tive!).

Você enriqueceu minha vida, me deu coragem, rezou por mim, me deu fé, amor, tempo, risadas, palavras... Eu só sei dizer que sou privilegiada.

Obrigada por cada pedacinho de você que colocou em mim. Obrigada por ter existido. Obrigada por ter existido comigo. Obrigada por existir em mim.

Vá em paz. Pra quem sonhava em andar sem o andador, voar é muito mais sua cara!

Vou cuidar do seu Ticoticotico”.

Te amo”.

Maria nasceu em Itapecerica (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 102 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Renata Lamounier. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 23 de agosto de 2022.