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Maria de Lourdes da Silva Vicente

1943 - 2020

Fez sua última viagem sozinha. É mais uma estrela azul no céu, provavelmente agora a iluminar Paris.

As pessoas diziam que ela era doce, cuidava com carinho de todos. Tia Lurdes, a Lourdinha ou apenas Tia. O Carlos Eduardo, a quem ela chamava de Du, era o único privilegiado a chamar de mãe essa mulher incrível.

Era uma contadora de memórias e histórias. Uma dessas histórias que ninguém esquece, fala sobre sua trajetória de mulher trabalhadora: seu primeiro emprego foi em um bar, aos oito anos. Já em São Paulo, depois que cuidou de crianças por alguns meses, acabou encontrando o trabalhou de sua vida na casa onde ficou por quarenta anos, até se aposentar.

Virou amiga de sua patroa, casou-se, comprou sua casa própria e teve um único filho, o seu querido Du.

Cozinhava que era uma beleza, fazia questão de anotar em seu caderno, deliciosas receitas. Gostava da casa cheia e com seus muitos afilhados, sobrinhos e netos. Fazia almoços e jantares para multidões.

Cuidava de suas plantinhas e dos seus três cachorrinhos achados na rua (Fred, Madona e Bob) e se preocupou com eles até seus últimos dias. Ao ser internada, recomendou à sobrinha Raiane: "Rá, cuida dos cachorros, o Bob dorme na cozinha e o Fred e a Madona na sala. A ração deles está no armário”.

Era muito vaidosa e sua cor favorita era o azul. Tinha roupas para todas as ocasiões. Até mesmo para ir à feira (todas as quartas e aos domingos, após a missa). Era religiosa e devota de Nossa Senhora Aparecida.

Tia Lurdes gostava de viajar com suas amigas e a próxima viagem seria para Paris.

Maria nasceu em Bebedouro (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Maria, Raiane Moura. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Hélida Matta , revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de agosto de 2020.