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Maria Estela Viana Margarido

1947 - 2020

Fazia o melhor doce de leite do mundo e dividia suas compras com quem precisasse, mesmo tendo pouco.

Essa paraense que virou manauara tinha mesmo um coração mais poderoso do que as águas do Amazonas. Perto de Maria, ninguém ficava triste ou cabisbaixo. Ela era pura alegria e vontade de viver.

Casou-se duas vezes: primeiro com Uriel Nazário e depois com Severino Ferreira de Andrade; ficou viúva de ambos. Teve sete filhos maravilhosos: Alice Castro, Fabíola Castro, Vitrícia Castro, Manoel Andrade, Uriel Viana, Judith Andrade e Francisco Andrade; e dez netos: Amanda Cristina, Sabrina Castro, Oscar Castro, Jonathan Castro Damasceno, Ana Lidiane, Maria Letícia, Pauline, Manoelzinho, Felipe, Emanuel, Manouela e Rayla. Uma família edificada na fé em Deus e que aprendeu com Maria a ajudar o próximo.

Maria não era mulher de fugir de batalha nenhuma! Enfrentava tudo com coragem, um sorriso no rosto e confiança na ajuda do Pai. Muito comunicativa, conversava com todo mundo e tratava a todos com carinho, sem fazer distinção.

A neta Sabrina relembra vários momentos com a avó. Conta que ela a chamava de “manequim da vovó”, pois a menina sempre foi magrela, desde pequenininha. Maria não gostava de política, mas garantia que se Sabrina se candidatasse a qualquer cargo público, ela seria, sem sombra de dúvida, sua eleitora número um.

Sabrina lembra de outra história curiosa com sua avó: na adolescência a menina era muito, mas muito fã mesmo da cantora Claudia Leitte. Participava até de um fã clube da artista, famosa por cantar e dançar sucessos de Axé. Nessa época, Maria morava com a família de Sabrina e já não aguentava mais ouvir as tais músicas; pegou até ranço da cantora. A menina não só as ouvia, mas também cantava e já havia se decidido que quando crescesse seria também uma famosa cantora de Axé. O sonho de Sabrina era viajar para Salvador com a avó. Pronto, Maria prometeu à neta que fariam a viagem! Mas os anos se passaram... Nada de viagem para Salvador, nada de conhecer Claudinha.

Maria Estela tinha um orgulho danado de sua neta, que formou-se com louvor em Administração de Empresas, fez Mestrado em Ciências Ambientais na Universidade Federal do Amazonas e se tornou professora de Graduação em Administração.

Na cozinha, aprendeu com a avó a fazer o melhor doce de leite. Foi com Maria que Sabrina também aprendeu as lições mais valiosas da vida: honestidade, compaixão, amor a Deus e ao próximo, e a levar a vida com leveza e ter um jeito peculiar de fazer humor. Quando se despedia da avó, sempre dizia: “Tiau, vó! Um cheiro no seu sovaco!”. Maria Estela ria que só da graça da neta e dizia que estava sempre cheirosa e faceira só para ganhar o “tal cheiro”.

Não é nada fácil encontrar nesse mundo gente que tenha essa capacidade mágica de ser forte e leve, ao mesmo tempo. De ser responsável, fazer tudo com seriedade e ter sempre um sorriso nos lábios. Essa gente que brilha é coisa rara! E Maria Estela não tinha esse nome por mera coincidência do destino. Maria, significa “senhora soberana” e Estela, “estrela”. Dois dias antes de completar 73 anos, o céu ganhou um brilho de luz incomparável. Maria Estela subiu para encontrar Jesus.

Maria nasceu em Santarém (PA) e faleceu em Manaus (AM), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Sabrina Castro da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ana Maria Macarini, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 1 de agosto de 2020.