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Melquiades Alves da Silva

1935 - 2021

Amava comemorar seu aniversário e reunir gente querida, com festa, churrasco e cerveja para celebrar a vida.

Melquiades, conhecido e chamado carinhosamente por todos de sua convivência, de "Mel", ou "seu Mel", ou ainda "Melzinho", foi um pai amoroso, marido dedicado, homem honrado. Com sua amada esposa Maria de Lourdes, constituiu família e era o pilar dela; tiveram dois filhos, Wagner e Fábio, e uma filha, Marcia. Também foi o "vovô Mel" de Marina, Carolina, Danilo e Murilo.

A filha, que faz essa singela homenagem ao pai, conta que "aos dez anos, Melquiades já não tinha nem pai, nem mãe, precisou encarar a vida de frente e fez isso com muita força e dignidade." Segundo ela, o pai fez do Rio de Janeiro sua morada, mas nunca se esqueceu de sua terra natal, a Paraíba, terra que agora abriga a saudade de suas irmãs, sobrinhos e amigos.

Apesar de todas as dificuldades que precisou enfrentar na vida, nunca deixou de ter um olhar otimista para o futuro. Sua alegria e irreverência eram sua marca. Era grato por tudo que havia conquistado e dizia que o mundo era lindo.

"Esposo dedicado, pai amoroso, amava a família e os amigos, e era muito amado por todos. Tio querido e amigo para todas as horas. Deixou lembranças lindas e divertidas em nossos corações. Nunca esqueceremos suas músicas, seu jeito peculiar de falar, suas piadas, seu amor. Gostava mesmo era de reunir pessoas a sua volta, com boas festas, churrascos e cerveja, para celebrar a vida. Amava comemorar seu aniversário", fala com ternura a filha.

Marcia lembra "que o pai tinha mania de palitar dentes", diz ela que "era engraçado demais, porque ele conseguia recolher o palito na boca, para dar um beijo rápido quando a gente estava saindo com pressa. Na cama dele, no cantinho onde ele dormia, encontramos dezenas de palitos."

"Meu pai sempre foi participativo nos afazeres de casa, colocava eu e meus dois irmãos para fazermos faxina, ou lavar louça ao som da música da faxina. Ele inventava música pra tudo, cada um de nós dos três filhos, nos recordamos de alguma música que ele inventou. Ele também gostava de cantar os clássicos como 'Asa Branca' e 'Coisinha do Pai', para sua plateia atenta e favorita, seus filhos."

A filha Marcia refere que "Melquiades foi um pai presente em momentos decisivos de sua vida; lembra que na época do vestibular ele a levou para todas as provas. Em uma dessas ocasiões, na UFRJ, eles quase perderam a inscrição, que naquela época, 1999, era presencial. A moça se lembra de correr pelo corredor do CSS lá na UFRJ, para consegui chegar a tempo. "Eu só consegui porque meu pai foi por um outro caminho, chegamos em cima da hora para o encerramento, mas "seu Mel", com seu bom papo e camaradagem, conseguiu mobilizar todo mundo para aceitar minha inscrição. Então, quando finalizamos a inscrição eu disse: 'Pai agora eu vou passar, depois disso tudo que vivemos hoje, tenho que passar!'; e ele respondeu: 'Eu tenho certeza disso minha filha.'" Naquele ano de 1999, Márcia foi aprovada para a faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e também para Engenharia na UERJ.

Melquiades realizou seus sonhos, que eram coloridos de simplicidade, queria ter uma vida tranquila e teve, na sua "Saraquaqua", que era como chamava a cidade de Saquarema, onde morava. E visitava sua amada Paraíba todos os anos. Segundo a filha, Melquiades não era um homem de grandes ambições, dizia que "para quem saiu do sertão com 12 anos de idade, órfão de pai e mãe, ele conseguiu chegar ao Rio de janeiro, crescer e vencer, e isso não é pouca coisa." Mel era grato demais por sua trajetória; dentre suas atividades de trabalho foi também militar da Marinha Brasileira.

A filha Marcia, sublinha que a partida de Melquiades deixa um vazio enorme na vida da sua amada esposa e de seus três filhos. E que apesar da dor de sua ausência física, 'Vovô Mel' nunca será esquecido. Suas histórias, brincadeiras e manias serão eternas nas lembranças e corações de todos.

Marcia finaliza essa amorosa homenagem ao pai dizendo que "sua coragem nos dá forças para seguirmos em frente com a vida, horando seu legado de amor."

E em nome de toda sua família, dedica ao pai, Melquiades, que tanto gostava de ouvir e cantar Nelson Gonçalves, uma de suas músicas preferidas, aquela que, muitas vezes, o viram cantar com lágrimas nos olhos de emoção.

"Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor

Naquela mesa ele juntava a gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala no seu bandolim

Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim."

Melquiades nasceu em Jurema (PB) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Melquiades, Marcia Brasil da Silva. Este tributo foi apurado por Cristina Marcondes, editado por Cristina Marcondes, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 29 de abril de 2022.