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Miguel Felipe de Oliveira

1944 - 2020

Catarino foi trabalhador e amigo. Amava sua Dona, sua família e ajudar a quem dele precisasse.

Catarino não era o nome que constava em seu documento de identidade, mas era assim que Miguel Felipe de Oliveira era carinhosamente chamado e conhecido por todos em seu entorno.

Casado com Margarida, que afetuosamente chamava de "DONA", pai de Helena e Elton, avô de Miguel, Nycholas e Lucas.

Catarino era o típico homem provedor, amava trabalhar, e mesmo depois de aposentado não ficava quieto. Dizia: 'Carro parado não tem frete'", lembra sorrindo sua filha Helena.

Como esposo sempre cuidou de sua amada Dona. Aprontou muito, e isso incluiu algumas fugas com as desculpas mais engraçadas possíveis: "Vou comprar farinha". E lá se passavam dois, três anos, mas o amor e a saudade de sua "Dona", filhos e netos sempre o traziam de volta para casa.

Durante uma dessas aventuras, sua amada Dona adoeceu. Então ele voltou mais que depressa para cuidar dela, e não mediu esforços ou condição financeira, queria vê-la curada.

"Meu pai era o típico homem tímido, porém se fazia notar sem perceber, contando suas histórias de vida ou os famosos casos que ouvia", fala com ternura a filha.

Miguel era uma espécie de anjo disfarçado de gente na vida das pessoas. Talvez por isso tenha ficado conhecido como Catarino, fazia parte do disfarce. Sempre apoiou quem dele precisasse: filhos, sobrinhos, conhecidos, desconhecidos, vizinhos.

Quem o conhecia jamais esquecia sua postura e seu caráter. Era comum ouvir: "Seu Catarino, fulano está precisando de socorro". Mais que depressa, ele pegava o carro e, não importava o tempo que precisasse, só voltava com a pessoa socorrida, ou se dissessem que ele podia voltar. Deixava o telefone de contato e dizia: "Liga a cobrar se precisar".

Quem quisesse ver o Catarino feliz, era só chamá-lo para ajudar, ele logo assumia a liderança para resolver as coisas. Transmitiu esse legado para os seus. Falava sempre: "Vocês podem fazer o que quiserem, mas lembrem que tudo de ruim que fizerem para vocês mesmos vai doer em mim e em sua mãe".

Não gostava de fotos, muito menos de "melação" - era assim que ele se referia às demonstrações exageradas e públicas de afeto.

Ouvir moda de viola caipira, tomar chimarrão e umas doses de conhaque, assim era seu relaxamento.

"Posso afirmar que, de seu jeito, foi e sempre será o herói da casa, da família. Papai era muito forte", diz sua filha Helena.

E, mesmo quando a Covid-19 alcançou sua vida, continuou forte e corajoso. Na emergência, sem nem conseguir respirar direito, ainda pedia aos profissionais de saúde que ajudassem outros pacientes ali internados.

Dizia: "Quando eu sair vou cair no mundo, viajar". O que ninguém sabia era que essa sua viagem seria eterna, marcada por Deus, sem bilhete de volta.

Transferido para o hospital de Campanha, conquistou médicos, enfermeiros e todos que ali estavam com seu jeito irreverente e generoso.

"Sem choro nem vela!", como ele dizia que queria que fosse, quando partisse deste mundo terreno.

Ficam as lembranças de todos os momentos vividos em sua companhia,
Miguel Felipe, inesquecível e amado Catarino.

Miguel nasceu em Boa Vista (RR) e faleceu em Belém (PA), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Miguel, Helena Santos de Oliveira. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Cristina Marcondes, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 12 de outubro de 2020.