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Osvaldo Novaes

1957 - 2021

Ouvir o motor funcionando, dirigir pelas estradas e estar perto de sua amada eram os acontecimentos que mais lhe causavam alegria.

Ele nasceu e cresceu numa fazenda paranaense, onde permaneceu até os 18 anos. Pelo que contava, sua infância parece ter sido boa e divertida. Teve seis irmãos: dois faleceram na infância e um já adulto, restando-lhe as três irmãs.

Deixando a fazenda, mudou-se para Diadema, em São Paulo, onde conheceu Vilma. Ela tinha 21 anos e ele 36. Nessa época, trabalhava numa transportadora como Chefe de Oficina, mas logo voltou para estrada, sua verdadeira paixão.

Osvaldo era apaixonado por carretas e amava a sua profissão. Nunca trabalhou pelo dinheiro e sim pelo prazer de dominar o volante e viver livre. Seus olhos brilhavam quando ouvia o barulho do motor funcionando.

Osvaldo e Vilma viveram uma união de mais de vinte e sete anos, vinte e três dos quais puderam trabalhar e viajar juntos. Vilma relembra os perrengues e sofrimentos passados na estrada, com caminhão quebrado e falta de dinheiro; mas lembra-se também dos momentos de alegria: comendo pamonha na rua, tomando vinho e conversando à noite enquanto aguardavam carregar ou descarregar o caminhão. Eles tinham um ao outro, não deixavam que nada os abalasse, sempre com a fé de que o amanhã seria melhor.

Saudosa, Vilma fala sobre a falta que Osvaldo faz em sua vida: "Não tivemos filhos, éramos um pelo outro. Éramos muito felizes, muito amigos, muito companheiros. Tínhamos uma ligação muito forte. É difícil acreditar que ele não vai mais voltar”.

Ela conta também que ele era bondoso, tinha um coração gigante, cheio de amorosidade e simplicidade. Que vivia sem manias e que, talvez pelo tempo que passava fora de casa, ao chegar só queria descansar e só se movimentava para mexer no caminhão.

Para Vilma, o vírus não tirou só uma vida. Tirou-lhe a felicidades, a alegria e o homem que mais amou! Aquele que lhe deixou vários ensinamentos como o de ser sempre honesta e leal. Ele sempre afirmava: “Se você for honesta e verdadeira, nenhuma porta se fecha; tudo vem a seu favor e o amor vence qualquer barreira!”

E ela conclui dizendo: “Eu o amava mais do que a mim mesma, não podia pensar na possibilidade de não ter o seu olhar me observando com admiração e orgulho. O olhar dele me mostrava um mundo mágico, onde não tinha maldade nem tristeza. Ainda durmo tentando ouvir as batidas do coração dele. Eu falava: 'Osvaldo seu coração bate assim: Vilma, Vilma, Vilma'... Às vezes ainda sinto a textura dos seus braços; aquele beijo na bochecha, que me atrapalhava quando eu estava lavando uma louça; as declarações de amor, atrapalhadas, que ele fazia. Depois que ele se foi, vivo mergulhada na tristeza e na saudade"!

Osvaldo nasceu em Santa Mariana (PR) e faleceu em Santo André (SP), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Osvaldo, Vilma Silva Novaes. Este tributo foi apurado por Mariana Nunes, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 25 de julho de 2022.