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Raimundo Nonato da Silva Neto

1965 - 2020

Gostava de estar sempre apresentável, para isso, cortava o cabelo a cada quinze dias.

Durante a vida, ele recebeu alguns apelidos: Maninho, Nonato, Lombi. Era vigilante de profissão e passava seu tempo livre assistindo a vídeos num site de compartilhamento e passeando com o cachorro. Nas folgas de domingo, único dia em que não trabalhava, ele visitava a mãe.

Casado com Elizete, viveram uma relação muito amorosa. Raimundo era muito parceiro e o casal se complementava nas diferenças: ele um poço de paciência e ela, de braveza. Com o suor de seu trabalho, criaram lindamente os dois filhos, Philipe e Bruna, que tinham uma relação muito boa com o pai.

Bruna, a caçula, conta que quando criança se divertiam com jogos de cartas e dominó e também que, mesmo depois de crescida, brincava de lutinha com o pai: ele lhe ensinava os golpes de defesa pessoal que aprendia no serviço.

Suas paixões eram a mãe e a esposa, os filhos e os sobrinhos, e seu cachorro Fred. Muito zelosos com os filhos, eles revezavam entre si a responsabilidade de buscar Bruna no ponto de ônibus quando ela voltava da faculdade. Além de valorizar a convivência com a família, Raimundo gostava de ir ao bar cumprimentar os amigos e jogar sinuca. Era torcedor do Santos e assistia a alguns jogos ali, tomando cerveja.

Raimundo e Elizete gostavam de participar dos eventos de família, momentos em que aproveitavam a presença um do outro, pois ambos não tinham muito tempo para o lazer devido ao trabalho. Bruna lembra com alegria e saudade de sua colação de grau, dia especial e maravilhoso, o último evento com Raimundo, que veio a falecer seis meses depois. “Ele trabalhava muito, mas eu consegui aproveitar as oportunidades que tive com ele”.

Raimundo tinha mania de assistir aos vídeos que ensinavam receitas, misturas caseiras, consertos e invenções. Certa vez, viu um que ensinava a fazer um banco com canos de PVC. Ele com vontade confeccioná-lo, gastou R$ 50,00 com o material e cinco horas de trabalho num domingo, só que sua obra não deu certo: o tal do banco não ficou firme e também não sustentava muito peso. Aí, esse episódio virou uma história de família, ganhou o apelido de “Banco de 50 reais”; no final das contas, por não oferecer segurança, passou a ser usado como suporte da impressora de Bruna.

Ele tinha também alguns hábitos que os filhos não esquecem: um deles era cortar o cabelo a cada quinze dias; outro, era nunca lembrar de apagar a luz, deixando-a sempre acesa... e torcia o nariz quando os filhos lhe chamavam a atenção para o fato.

Raimundo nasceu em Teresina (PI) e faleceu em São Paulo (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Raimundo, Bruna Gomes da Silva. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 6 de janeiro de 2022.