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Rosiani Baggio Campanholi Mazetto

1975 - 2020

Conquistou autoestima e fez do seu corpo o seu templo.

Essa é a homenagem da filha Isabella para sua mãe, Rosiani:

Minha mãe era uma pessoa sonhadora, de coração gigante, tinha um carinho enorme pela área da educação. Ela fez magistério, mas não concluiu por diversas razões, entre as quais a dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos. Tenho certeza de que teria sido uma excelente professora porque, quando criança, ela brincava de escolinha com a irmã mais nova. Elas escreviam na porta do guarda-roupa e assim, de brincadeira, acabou alfabetizando a irmã em casa. Minha tia tornou-se professora e eu faço Pedagogia em uma universidade pública. O que foi para ela motivo de muita alegria e uma conquista para nós duas, porque o magistério está nas veias da nossa família e ela foi a pioneira e inspiradora.

Ela também tinha o sonho de ser modelo. Porém, por ser uma pessoa gorda, ou seja, fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade, essa possibilidade sempre foi difícil. Entretanto, de uns tempos para cá, ela vinha pesquisando e conhecendo vários concursos de modelo “plus size” e buscando um lugar nessa carreira. Fez vários ensaios fotográficos e, por mais dura que tenha sido a vida, por mais insensíveis que tenham sido as pessoas que a discriminaram por seu corpo, ela estava se enxergando de forma diferente. Vivia uma fase cheia de autoestima, de amor-próprio e empoderamento.

Conhecemos juntas um movimento chamado “Corpo Livre” que tem uma página numa rede social de fotos e vídeos onde diversos influenciadores abordam essa temática, expandindo o debate sobre os diferentes tipos de corpo que existem e que merecem ser RESPEITADOS. Ela vinha se amando muito! Estava se encontrando na beleza de seu corpo. Isso me traz muita alegria e conforto.

Ela era uma mãe maravilhosa. Éramos melhores amigas, aprendemos o que é o amor uma com a outra. Um amor genuíno, sincero e recíproco. Ela buscava ser o melhor para as pessoas; quando não conseguia, não estava bem consigo mesma e preferia ficar distante para não machucar ninguém. Ela amava Adele, U2, Enya. E ainda tantas outras coisas! Não caberia tudo em um simples tributo...

Dizem que a morte é nossa única certeza na vida. Porém, por incrível que pareça, ela não nos dá resposta alguma, só nos deixa dúvidas. Talvez a certeza seja só para os que vão e não para os que ficam. O certo é que a saudade nunca deixará de existir. Sua memória permanece viva em nós.

Rosiani nasceu em Ribeirão Claro (PR) e faleceu em Sorocaba (SP), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Rosiani, Isabella Campanholi Mazetto. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 30 de agosto de 2022.