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Sandro Gori

1975 - 2020

A paixão pela família e pela vida o motivaram a realizar o sonho de formar-se em Química e tornar-se professor.

Sandrão, como era chamado pela família, teve uma infância bonita e doce de se lembrar. Filho do meio e apegado aos irmãos, tinham uma relação linda. Na vida e nas fotos, era um grude com a irmã caçula. Coração bom desde criança, quando via que o irmão mais velho queria mais sorvete, dividia o seu na hora.

Muito Sandro herdou e absorveu de exemplos familiares. Seu pai era um homem bem ligado à família e apaixonado pela esposa, como conta Léa. "Meu sogro tinha muito carinho e respeito pela esposa. As relações de todos eram muito afetuosas e Sandro falava da infância na Praia Grande com saudade. Contava que saía da escola e sua mãe os levava à praia, onde tomavam banho de mar, depois retornavam à casa e apreciavam um bom pão com banana".

A esposa lembra ainda de uma recordação que Sandro lhe contou: quando tinha aproximadamente 13 anos, brincava com uns colegas na chuva, que virou um temporal e fez um rio da cidade encher-se rapidamente. Escapou por pouco da morte, segurando-se no mato!

Sandrão tinha verdadeira paixão por seu pai e mesmo quando mais velhos não dispensava as brincadeiras juntos. Muito menos o hábito de beijá-lo carinhosamente. A ligação dele com a mãe também era muito forte. Com ela Sandro tomava café diariamente, e o "bom dia", logo pela manhã, era algo sagrado na relação dos dois.

Neto de italianos, não escapou da paixão por massas. Fazia pizzas, esfihas, macarronadas — itens indispensáveis em seu cardápio. Também amava doces, principalmente o pudim com claras em neve feito por sua madrinha, "que, se deixassem, comia todo sozinho", entrega Léa.

"Conheci Sandro, ou 'meu amor', como nos chamávamos, em 1993, quando fomos padrinhos de casamento de uma amiga minha, que se casou com o irmão dele. Nos tornamos amigos, depois namorados e em 1999 casamos no civil. Renovamos os votos do matrimônio em 2006, desta vez na igreja, e foi maravilhoso: ele era o noivo mais lindo do mundo, eu me vesti de noiva e nossas filhas foram daminhas de honra. Na viagem de lua de mel passamos por algumas aventuras e, em dois dias de viagem, Sandro me propôs buscar nossas filhas pra dividirem os momentos felizes conosco. As meninas ficaram surpresas e os dois dias que restavam de viagem foram muito divertidos e felizes."

A paternidade foi um presente que Deus lhe deu. Sandro nasceu para ser pai, especialmente pai de meninas. Sempre cuidou delas com muito zelo e respeito. Nathália foi a primogênita. Quando ela era pequena, Sandro pendurava suas bonecas nos lustres, provocando muitas risadas. Depois nasceu Giovanna, como em resposta a um pedido carinhoso de Sandro e Nathália. Foi um pai totalmente apegado a esta segunda filha. "Os dois tinham uma relação leve e de muitas brincadeiras, que seguiram da infância à fase adulta de Gi", reconhece Léa. A caçula, Helena, nascida em 2016, viveu intensamente com o pai. É a sua cópia, tanto fisicamente, quanto na personalidade e no jeito de se expressar; tinham uma conexão absurdamente linda! Brincavam de boneca, de cavalinho e Helena carrega essas memórias felizes consigo.

Sandro presenciou radiante a formatura de Nathália em Engenharia Civil e seu casamento com Matheus. Foi à noite buscar o buquê da filha em outra cidade, seu vestido de noiva também, e participou de cada detalhe do casamento — momentos mágicos em que ele sempre esteve presente.

"Nossa família com certeza é muito unida e caseira. Os programas que eu e meu amor fazíamos juntos eram ir ao mercado comprar gostosuras, assistir a filmes em casa comendo pipoca, passear pela praia ou em parques e ir a sorveterias. Sandro era completamente apaixonado pelo filme 'Transformers'. A família já havia decorado as falas, de tantas vezes que assistimos juntos", lembra com humor Léa.

Esse chefe de família, após investir nos estudos das filhas, correu atrás de seus sonhos: com as duas filhas mais velhas já adultas, formou-se em Química e por dois anos realizou-se como professor dessa matéria. Sempre muito solícito, conquistou o coração dos alunos, fazendo grande diferença na vida deles. Léa, orgulhosa, diz que o marido chegava em casa feliz, ansioso para corrigir as redações em que pedia para os alunos falarem sobre seus sonhos e o que esperavam dos estudos.

"Fomos muito ligados, até o fim. Nós dois estávamos hospitalizados, contaminados pelo coronavírus. Quando ele precisou ser transferido para a UTI, pediu que os médicos me acordassem para se despedir. Internados no mesmo corredor do hospital, me acordaram informando. Olhei para porta, ele passou com toda a equipe médica e acenou para mim. Me entregaram o celular dele e entendi que ele tinha consciência da despedida. Metade de mim foi com ele”, expõe com tristeza Léa.

Após a partida de seu amado, e em sua homenagem, Léa eternizou sua assinatura tatuando-a em seu braço, pois admirava a beleza de sua letra, e por ter sido utilizada em tantas conquistas do casal. Léa diz ser extremamente grata por ter vivido um amor puro e sincero, cheio de muito carinho e gentileza. "Ele foi o melhor pai e esposo que se pode imaginar. E seguirá sendo, pois ele está vivo na memória de sua família. Um ser humano alegre, do bem e de sorriso fácil. Acordava de manhã já de bom humor e me dava um bom dia sorridente. São essas lembranças que nos mantêm firmes e fortes".

Sandro nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Sandro, Léa Aparecida Lopes Gori. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Denise Pereira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2021.