Sobre o Inumeráveis

Valdivio Leal da Cruz

1964 - 2020

Perpetuou sua missão de cuidado e atenção aos pais.

Não existia nada mais importante na vida dele que o amor pela família. Era o queridinho do pai e da mãe, o filho mais novo de uma família de sete filhos. Além de filho, marido, irmão, tio e pai exemplar. Seria avô, mas não chegou a conhecer o seu netinho Hakim.

Valdivio, de caráter íntegro e honesto, adorava o seu trabalho. Esperava por um país melhor, manifestando esse desejo com seus discursos politicamente corretos.

Apaixonado pelo futebol — e pelo Bahia — torcia, sofria, vibrava e roía as unhas... era mais um técnico durante os jogos. Uma preocupação para seu pai, que pedia para ele tomar um remedinho para não ter nenhum “piripaque”.

Outras paixões eram o automobilismo e a Fórmula 1. Acompanhava todas as etapas e acordava muitas vezes às 4 da manhã para assistir às corridas. "Amava o Mustang GT 500, um dos sonhos de consumo dele era esse carro!", lembra o irmão Valdemir.

Seu hábito de sujar as camisas quando comia era motivo de brincadeiras de sua esposa. Valdivio costumava chamar seu filho de "Biri Biri", mostrando seu carinho pela família.

"Uma pessoa tão preocupada com todos que, quando começou a pandemia, além de não sair, se preocupava com as pessoas da família para que ficassem isoladas e, com isso, acabou virando um jornalista de plantão, para transmitir à família tudo que se referia ao coronavírus", relembra, com um sorriso no rosto, seu irmão.

Foi tudo muito rápido. A primeira dor na família veio com o falecimento do pai de Valdivio, que já estava internedo quando a perda aconteceu. "Não conseguimos sofrer o luto, pois logo também estávamos preocupados com a internação de Valdivio e, nesse momento, combinamos não comentar com a mãe, já que ela estava fragilizada pela morte do esposo e, se soubesse que seu xodó estava internado, isso poderia piorar a situação", conta o irmão de Valdivio.

Infelizmente, a mãe, já fragilizada, foi também acometida pelo novo coronavírus e faleceu sem saber que o filho estava internado. E ele, por sua vez, não soube do falecimento de sua mãe.

"A impressão que fica pra nós é que ele partiu para completar a missão de continuar cuidando dos nossos pais, onde eles estiverem", conclui Valdemir.

Valdivio e seus pais continuam juntos, como sempre. A história de Maria José Leal da Cruz, mãe de Valdivio, também está guardada neste Memorial.

Valdivio nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo irmão de Valdivio, Valdemir Leal da Cruz. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Lígia Franzin, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 12 de outubro de 2020.