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Vanderley Dias

1956 - 2021

Apaixonado pela família, era o bom humor em pessoa, desde que não o chamassem bem na hora da novela.

Vande, Vandão, Vandeco: era assim que Vanderley era carinhosamente chamado pelos familiares e amigos. Comunicativo, afetuoso – e um pouco dramático – era aquela pessoa que fazia amigos por onde passava.

“Meu pai era contador e tinha uma relação maravilhosa com as pessoas do seu trabalho. Muito querido, alegre e brincalhão, conhecia bastante gente e fez inúmeras amizades por lá. Todos gostavam muito dele e sinto que cada um é extremamente grato por algo especial que o meu pai fez por eles”, conta a filha Flavia.

Amoroso, Vande tinha uma relação de muita amizade com a esposa Josefa. Considerado um pai “super-herói”, era extremamente protetor. Ajudava o filho Dênis e as filhas Andreia e Flavia em tudo o que estivesse ao seu alcance. “Meu pai conversava, nos aconselhava, era o nosso verdadeiro ‘amigão’ de todas as horas”, recorda Flavia com muito amor.

Flavia conta sobre um momento divertido: “Meu pai não conseguia ficar bravo com a gente a ponto de perder a paciência. Certa vez aprontamos demais, ele se zangou e decidiu que nós três iríamos levar umas palmadas. Pensou bastante e escolheu um chinelo feito de pano para o castigo. Claro que isso não poderia funcionar! Acabamos todos rindo muito na hora – incluindo ele – daquela cena inusitada. A partir daquele dia passamos a lembrar eternamente desse episódio tão engraçado!”

Vande era um avô extremamente amoroso. Gostava muito de brincar com os netos João Pedro, Miguel e Felipe e a neta Ester. “Sempre dava amor, esse sentimento transbordava dele quando estava com as crianças”, relata Flavia.

Companheiro e gentil, ajudava todas as pessoas que podia, de todas as formas que conseguia. “Menos na hora da novela, que era o seu momento”, conta a filha Flavia, com um riso no rosto ao lembrar da paixão do pai pelas novelas das 21 horas. E continua: “Ficava bravo se o atrapalhassem na hora da sua programação preferida!”

Gostava de beber chopp e amava uma festa, desde que não tivesse muita “muvuca”. Quartas à noite, era sagrado comer pizza assistindo os jogos de futebol. Seu time de coração era o Corinthians e por muito tempo jogou bola religiosamente aos domingos: Vande tinha um time de futebol com os primos. Aos sábados, não podia faltar uma caprichada feijoada acompanhada de caipirinha de Steinhaeger com limão siciliano.

Vande amava fazer churrasco para reunir a família inteira em divertidos almoços. Era impossível não rir das piadas dele, ainda que não fossem assim tão engraçadas. Ele era tão “zoeira” que as pessoas acabavam rindo porque no fundo tudo o que ele fazia sempre tinha um fundo de graça. “Certa vez meu irmão comprou um Passat daqueles antigos e um vizinho perguntou se era para ele ir pescar. Acho que ele associava esse modelo de carro com lazer e pescaria, sabe-se lá por quê. Quando meu pai ficou sabendo da história, nunca mais parou de tirar sarro do menino”, diverte-se a filha Flavia ao se lembrar de como o pai era brincalhão.

São inúmeras as situações engraçadas que preenchem a memória dos familiares e amigos. Como não se lembrar do Vande sempre a pechinchar o preço nas lojas e depois acabar dando uma nota de maior valor ao final da negociação? E a alegria dele quando aprendeu a fazer sua própria foto com o aparelho celular? E os passeios de carro? Como não rir ao se lembrar do Vande no banco de passageiro, agarrado naquela alça de segurança que fica logo acima da janela – dirigindo e brecando junto com o condutor do veículo?

Flavia conta que, quando viveu sua primeira experiência íntima, foi toda feliz contar ao pai. “Ele ficou todo sem graça e desesperado, só sabia repetir: minha filha, não precisa me contar nada disso não! Não precisa! Filha, não precisa!”. Flavia então se deu conta de como o pai ficou desconcertado com aquela revelação e começou a rir. “Acabamos os dois na maior gargalhada com aquela situação”, lembra a filha com muito afeto.

As reuniões de família, os almoços de final de semana e as viagens são momentos inesquecíveis de amorosa convivência. O entusiasmo único de Vandeco e o seu modo de encarar a vida – rir e brincar sempre, mesmo nos momentos mais difíceis – serão combustível para a família seguir, honrando seu legado de alegria e amor.

Vanderley nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Santo André (SP), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Vanderley, Flávia de Araújo Dias . Este tributo foi apurado por Claudia Saviolo, editado por Claudia Saviolo, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Claudia Saviolo em 22 de maio de 2021.