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Vilson Aparecido Stefanin

1964 - 2021

Cuidava dos passarinhos, cujos cantos eram sua válvula de escape para as tensões do dia a dia.

Vilson teve uma infância alegre permeada por brincadeiras de esconde-esconde, pega-pega, corridas de carrinho de rolimã e bicicleta, num tempo em que brincar na rua era o ponto alto na rotina das crianças.

Ele conheceu Dalva numa curva da vida quando, ao comprar um terreno do lado da casa dela, primeiro viraram vizinhos, depois amigos e, daí para o namoro e casamento, foi um pulo. Viveram um relacionamento com muita cumplicidade e algumas briguinhas corriqueiras que logo se resolviam com a força do amor que os unia.

Tiveram dois filhos, Guilherme e Leonardo. Com os garotos sempre foi muito atento e até tentava ser durão, mas, graças ao seu coração de manteiga, eles sempre conseguiam dele o que queriam.

Era prestativo e presente nas dificuldades e pendências familiares, sempre que possível. Para os sobrinhos era um tio atencioso e carinhoso, que sabia chamar a tenção quando necessário e, para Laura, em especial, ele era mais que um tio ou um padrinho, era um amigão!

Exercia a profissão de metalúrgico e amava seu trabalho, por meio do qual pôde proporcionar uma boa vida à família. Não gostava de faltar de jeito nenhum e, com um enorme senso de responsabilidade, comparecia ao serviço até quando possuía um atestado médico, e assim agiu até se aposentar.

Seu maior hobby era cuidar do carro; sonhava ter um da marca HRV que conseguiu - com muito esforço -, adquirir. Tratava diariamente dos passarinhos, cujo canto representava para ele uma verdadeira válvula de escape para as tensões do dia a dia. Dentre eles havia um Picharro que era o seu xodó preferido.

“Ele não era chato para comer e suas paixões eram: feijoada, joelho de porco e churrasco, o qual ele não abria mão de comandar, desde a compra das carnes até o trabalho na churrasqueira que ele não abandonava do começo ao fim”, conta o sobrinho Marcos.

Era emotivo, a ponto de chorar quando soube por telefone que seria tio de uma menininha, notícia revelada por meio de um ultrassom; era a filha de Maria, sua irmã, que estava a caminho. O sobrinho se considera muito parecido com Vilson: “A minha história de vida é bem parecida com a do meu tio. Também sou metalúrgico, não tive muito estudo e venci na vida da mesma forma que ele venceu, e a gente comentava muito sobre isso. Ele foi meu padrinho de casamento, gostava demais dele. A gente se falava todo dia e minha tia até brincava que não sabia onde a gente achava tanto assunto pra se falar todo dia. Eu aprendi muito com ele”.

Vilson deixou saudades pelas histórias que sempre tinha para contar e pelo apreço que demonstrava e recebia das pessoas, das quais ele se declarava - e era mesmo -, um amigão.

Vilson nasceu em Santo Antônio de Posse (SP) e faleceu em Santo André (SP), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo sobrinho de Vilson, Marcos Paulo de Jesus. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Karina Zeferino, editado por Vera Dias, revisado por Arnon Marques Antunes e moderado por Rayane Urani em 3 de novembro de 2021.