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Walderes Rabelo

1956 - 2021

Um professor de matemática que contabilizou a vida multiplicando sua ajuda ao próximo

Aos 51 anos e depois de inúmeras lutas Walderes decidiu tentar o vestibular e conseguiu sua licenciatura em Matemática. Foi um professor muito dedicado. Não deixava de ensinar até que todos os alunos tivessem aprendido a matéria do dia, e tornou-se tão querido na escola onde trabalhava que, ao partir, dela recebeu uma homenagem e três dias de luto.

Quando Walderes conheceu sua esposa ela trabalhava numa butique em Belém do Pará e ele, em um restaurante próximo. Quando a viu pela primeira vez apaixonou-se completamente. Ela também não resistiu aos seus encantos. Namoraram durante dois anos, noivaram mais dois e culminaram seu amor com trinta e oito anos de casados, somando assim quarenta e dois anos de uma linda história.

Eles se amavam tanto que, mesmo depois de tanto tempo juntos, ainda viviam de mãos dadas e trocavam olhares de cumplicidade, como se fossem dois jovens apaixonados. Conta a filha, Natacha: “Mau pai era apaixonado pela minha mãe e ela por ele. Quando ele partiu, minha mãe percebeu sem ninguém falar e, já doente, começou a piorar. Se realmente existem almas gêmeas eram eles, um para o outro, tenho certeza. Nasceram no mesmo ano e partiram no mesmo ano”.

Foram pais de Natacha, Rubia e Walber. Ele foi um pai muito zeloso, mas não muito carinhoso. Seu amor era demonstrado através do cuidado e da proteção. Natacha relembra com carinho: “Apesar de esconder seus sentimentos, isso antes de ter os netos, ele chorou como uma criança quando passei no vestibular. Ficou bastante emocionado e isso foi muito bonito"!

"Brinquei de bonecas até os meus 15 anos. Para tentar esconder esse fato, sempre as jogava embaixo da cama, para o papai não ver que eu ainda brincava com elas. Até que ele descobriu e passou a me chamar de 'bebê da casa'. No começo, eu fiquei chateada, mas depois nós nos divertíamos com essa história."

Quando nasceu o primeiro neto, o coração de Walderes se amoleceu de tal forma, que ele se transformou no vovô coruja do Pedro. Não sabia dizer "não" para o netinho; e daí foram chegando o Mateus e a Maria Vitória, para alegrar ainda mais o seu coração. A última, Beatriz Fortunata, recebeu seu nome em homenagem a avó. Os avós não chegaram a conhecê-la, embora a aguardassem com carinho: Walderes e a esposa faleceram um pouquinho antes de seu nascimento.

Walderes fazia de tudo pela família e quando alguém pedia seu auxílio, sempre arrumava um jeito de ajudar. Se alguém batesse na porta em busca de ajuda, ele procurava algo para oferecer; se não tivesse dinheiro, preparava uma comida ou entregava algum alimento para o necessitado levar para casa.

Ele sonhava receber logo a sua aposentadoria e terminar a reforma do sítio onde a família gostava de se reunir; queria viver com simplicidade, junto à natureza, ao lado de sua esposa. Passava o dia todo plantando laranja, banana, melancia e outros frutos; gostava de organizar as mudas e adorava colher e distribuir sua colheita. Por fim, ficava admirando todo o seu trabalho na reforma do sítio.

Nas horas vagas, gostava de jogar futebol com o netinho Pedro. Era um torcedor fiel do time Paysandu, o seu amor alviceleste. Era apaixonado por farinha de Bragança, com textura crocante e sem adição de corantes, cujo método de fabricação utiliza água. E a filha, sabendo disso, toda vez que comprava ou ganhava de seus pacientes, não se esquecia de levar para ele.

Dentre os seus tantos ensinamentos, um se destaca e permanece na lembrança: "Nunca desejar o mal para as pessoas, mesmo que essas pessoas façam algum ruim contra nós".

A esposa de Walderes também foi uma das vítimas da Covid-19; você pode conhecer um pouco da história dela acessando a homenagem para Maria Fortunata de Melo Rabelo.

Walderes nasceu em São Luís (MA) e faleceu em Belém (PA), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Walderes, Natacha Caroline de Melo Rabelo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 20 de setembro de 2022.