1975 - 2021
Dava aulas particulares gratuitas de Ciências Contábeis, com explicações bem claras, a quem não pudesse pagar.
O menino Arnaldo foi criado pelos avós paternos, desde a separação dos pais. Nascido no interior do Paraná, ele ainda viveria com as tias em Londrina, após o falecimento dos avós. Foi nessa cidade paranaense que o jovem Arnaldo encontrou a companheira da vida, Andrea, com quem teve Beatriz, que faz esta homenagem.
Durante a infância da filha, Arnaldo se reaproximou dos pais. Quando a menina tinha 7 anos, o reencontro de Arnaldo foi com o pai, que estava doente. Em 2020, teve a oportunidade de reencontrar a mãe.
Com a ex-esposa Andrea, Arnaldo viveu vinte e cinco anos de casamento, além dos dez de namoro, iniciado no grupo da igreja em Londrina. “Meu pai era pessoa de um coração enorme, que ajudava a todos que precisassem, ainda que ele mesmo enfrentasse dificuldades”, relembra Beatriz, para quem o pai tinha uma qualidade rara: saber perdoar. “Ele sempre perdoava, não importava o mal que fosse feito. Não levava mágoa de ninguém.” Protetor também dos animais, ajudou a formar uma organização não-governamental de proteção animal.
Foi um pai muito participativo, tendo ajudado Beatriz em toda a vida e nos estudos. Se pai e filha tiveram uma vida de muita parceria e proximidade, com os alunos ele também desenvolveu relações de confiança e afeto. Profissional das Ciências Contábeis, unia o conhecimento à solidariedade. “Foi um homem de coração gigante, acolhedor e com dom de ensinar”, como relembra a ex-aluna Maíra Damazio.
“Com sua simplicidade de comunicação, era muito mais tranquilo esclarecer qualquer dúvida em relação à execução de tarefas dentro do escritório de contabilidade - através das explicações dadas por ele -, ou aprender ‘custos’, que pra mim sempre foi matéria muito complexa no curso de Ciências Contábeis", afirma Maíra. "Ele fazia com que tudo ficasse mais claro e leve para colocar em prática”, resume a ex-aluna que, em 2019, teve a oportunidade de retribuir toda a ajuda que ele tinha lhe dado com aulas particulares quase dez anos antes.
“Juntos mais uma vez em parceria, pude aplicar com o "Arms" - como carinhosamente o chamava, pelo apelido nascido das iniciais do professor -, técnicas de autoconhecimento e inteligência emocional, e tive a alegria de estar ao seu lado quando ele se recuperou de uma forte depressão; ele resgatou o sentido da vida, recuperou-se financeiramente e emocionalmente. Fomos um para o outro ponto de apoio, força e admiração”, conta.
A filha Beatriz diz que seu nome foi escolhido pelo significado: aquela que traz felicidade. “Éramos muito grudados um no outro, sempre estávamos juntos”, lembra. Homem que tinha por interesse nas horas livres ficar com a família, Arnaldo viveu com alegria, contribuiu para a formação de alunos e deixou um legado de amor. “Meu melhor amigo, a pessoa que eu mais amo nessa vida. Digo amo no presente, porque ele está vivo dentro do meu coração.”
Arnaldo nasceu em Bandeirantes (PR) e faleceu em Limeira (SP), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Arnaldo, Beatriz Vieira Soares. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Ana Macarini em 6 de março de 2022.