1948 - 2020
Tinha mania de assobiar. Seu assobio era tão único, que todos já sabiam de longe que ele estava chegando.
Seu Toninho, como era chamado, foi um homem dedicado à família. Foi casado por quarenta e seis anos com Conceição. Conheceram-se quando ela se mudou para uma casa no bairro da Consolação, em São Paulo. Antônio conhecia o esposo da irmã de Conceição, que então os apresentou. No início, Conceição foi durona, mas logo apaixonaram-se e construíram uma linda história de amor. Frequentavam juntos a igreja, o que aproximava ainda mais o casal. Juntos, tiveram três filhos, Alex, Ana Paula e Antônio Carlos, dois netos, Jennifer e Alex Júnior e um bisneto, Bernardo, como quem seu Toninho gostava muito de brincar.
Tinha um grande amor pelos animais. Os cachorros Clifford, Trovão e Lilica, a gata Tigresa e a tartaruga Margarida eram seus grandes companheiros. Clifford e Trovão, os melhores amigos do seu Antônio, adoeceram e partiram um mês após o seu Toninho, de tanta saudade que sentiram. Também gostava muito de cuidar das plantas que tinha em casa, como suas orquídeas e o pé de jabuticaba. Fazia o café mais cheiroso do Tucuruvi.
Gostava de reunir a família sempre que podia, principalmente para desfrutar de longos almoços. Para Seu Toninho, sempre cabia mais um na casa! Tudo era motivo para festejar. Gostava de rir bem alto, como um bom brincalhão. Nas horas vagas também gostava de assistir aos filmes de Mazzaropi e aos jogos do Corinthians, seu time do coração. A paixão pelo Corinthians foi uma característica marcante de Seu Toninho. Sempre que possível, ia ao estádio para ver, ao vivo, o time jogar. Nos dias de jogos, não vestia outra camisa senão a camisa do timão. No dia a dia, não usava nenhuma camisa na cor verde, pois essa cor remetia ao arquirrival, o Palmeiras.
As reuniões em família continuam, os familiares recordam histórias antigas do seu Toninho, como o dia em que seu filho, Antônio Carlos, reconheceu no Morumbi o assobio do pai. A filha, Ana Paula, conta que quando o irmão tinha 13 anos perdeu o ônibus após um jogo do Corinthians contra o Vitória, no Morumbi. Sem saber muito o que fazer, o menino voltou para o estádio e pediu ajuda ao segurança, que lhe explicou que, em dia de jogo, o itinerário do ônibus era desviado. O segurança convidou o menino a entrar novamente no estádio, levando-o até o local onde os jogadores da base dormiam. Estranhando a demora, Toninho resolveu ir até o Morumbi procurar o filho. Chegando lá, começou assoviar e o filho afirmou ao segurança: "Meu pai está chegando". Surpreso, o segurança, respondeu: “Até parece, pelo assovio você sabe que é seu pai!” Poucos minutos depois, a chamada confirmou aquilo que o menino já sabia: seu pai estava ali pronto para acolhê-lo e levá-lo para casa.
Íntegro e honesto, sempre trabalhou muito para dar o melhor para a família. Foi funcionário público estadual na área de manutenção — onde era conhecido como Tucuruvi, em referência ao bairro em que morava — mas também atuava como porteiro no período noturno. Sua carreira profissional foi além: Toninho trabalhou fazendo entrega de jornais e vendia materiais para reciclagem. Todo esforço do paizão ficou marcado na memória da sua família que lembram dele preparando-se para suas jornadas. Já aposentado, manteve apenas a atividade de porteiro e pôde, enfim, curtir mais os seus. Tinha uma frase marcante que sempre falava quando lhe pediam algum favor e ele estivesse cansado: “Hoje não, amanhã”, dizia.
Quando a calmaria da aposentadoria chegou à vida de seu Antônio, sua rotina mudou: despertava cedo, acordava a família e ia até a padaria. Na volta, enquanto esquentava a água para passar o café, dava comida para os cachorros, Clifford e Trovão, água para a gata Tigresa e então voltava-se para o preparo do café. Saudosa, a família lembra do café de Seu Toninho, a maior especialidade do chefe da casa. Fazia uma garrafa térmica generosa às seis da manhã e outra às seis da tarde. O café do seu Toninho era forte, encorpado daqueles que até o cheiro fica gravado na memória e no paladar.
Antônio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.
História revisada por Rayane Urani, a partir do testemunho enviado por pela filha , em 11 de dezembro de 2021.