1949 - 2020
Era uma mulher de Deus. Uma mulher que acreditava na força da oração.
A chamávamos de Deusa porque ela tinha o poder de nos ajudar sempre que estávamos em apuros, fosse com uma cesta básica ou uma ajuda de custo, o que estivesse ao alcance dela, ela sempre fazia.
Sempre nos transmitia a palavra de Deus. Ler a Bíblia Sagrada era um hábito levado muito a sério. Dirigia o grupo jovem, o grupo das irmãs e as orações matutinas.
Ultimamente, havia diminuído as atividades noturnas junto à igreja para poder cuidar da mãe de 91 anos.
Gostava de acompanhar novelas. Amava viajar. Tinha uma mania curiosa: cobria as roupas que ficavam dentro do guarda-roupa com lençóis. Dizia que assim elas não manchariam.
Tinha cara de brava. Muitos achavam que era brava. Mas tudo era uma capa, só uma capa que escondia a caridade, o carinho e o amor que tinha por todos. Principalmente pelos sobrinhos que tratava e cuidava como se fossem filhos.
Nunca se casou. Nossas idas ao mercado ou ao shopping eram engraçadas, pois todas as vezes ela ficava em dúvida sobre o que comprar e levava horas perguntando: “não sei se levo, se não levo, o que você acha?”.
Em uma ligação que me fez, conta a sobrinha "disse que achava que estava com dengue. Como sou enfermeira, perguntei o que estava sentido, e no final disse a ela que muito provavelmente não era dengue".
Ela foi internada e logo depois com a piora do quadro clínico, precisou ser entubada. A sobrinha ainda relembra que "No seu último dia, eu ministrei o remédio de pressão. Ela olhou para mim, eu lhe fiz um carinho e ela sorriu de volta. E lá se foi a nossa Deusa, sorrindo".
Deuselina nasceu em Alegre (ES) e faleceu em Duque de Caxias (RJ), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Deuselina, Clerislene (Kelly). Este texto foi apurado e escrito por Marcia Horacio Barbosa, revisado por Monelise Vilela e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2020.