1962 - 2021
Tornou a vida dos familiares mais doce. Sua mãe até o chamava de "mel empoçado", de tão amável que era.
Ailton era o caçula da família. Perdeu o pai aos 7 anos, quando os irmãos assumiram sua criação junto à mãe. Tempos depois, foi Ailton quem cuidou da progenitora. Ela o chamava de "mel empoçado" e o encanto era recíproco: Ailton também era apaixonado pela mãe.
Toda essa doçura estendeu-se aos outros vínculos. A esposa, Nelma, conta que para ela seria impossível não se apaixonar por ele. "Era um rapaz muito bonito, cobiçado, muito respeitado e querido, impossível não se encantar com a educação e simplicidade com que tratava a todos. Minha mãe foi quem mais incentivou, era apaixonada por ele, pois ele sempre a tratou como um filho", conta.
Os dois se conheceram na fazenda onde Ailton trabalhava como vaqueiro desde os 13 anos. Nelma foi ajudar a cunhada e o irmão Daniel, também trabalhador do local, a cuidar da filha deles, sua sobrinha. Lá eles se aproximaram e não tardaram a casar: conheceram-se em agosto de 1985 e casaram-se em 24 de maio de 1986. O casamento foi marcado pela união. Nelma diz que passaram por dificuldades financeiras, mas estavam sempre juntos. Ele sempre tentava agradá-la, fazer suas vontades.
Tiveram três filhos, com os quais Ailton era muito apegado. "O Márcio nunca mudou nem de cidade, onde um estava, o outro estava junto. Pai e filho eram companheiros de cerveja e de churrasco. Já com o mais novo, Murilo, ele gostava de cantar "modão" e de jogar truco. Perdemos também um dos nossos filhos, antes do Ailton partir", relata.
Ailtom mudou-se para Claudinópolis quando o filho começou a estudar. Na cidade, fez muitos amigos. Ailton trabalhava como cortador de cana e pediu demissão para poder se mudar. De acordo com a esposa, por não ter muito estudo, ele optou por pegar o acerto, vender o carro e abrir uma sorveteria. Daí em diante, tirou o sustento do empreendimento que ficava em uma rodovia que corta a cidade. "Conquistou clientes com sua simpatia; amava e era amado pelo povo de Claudinópolis", afirma a esposa.
Levava o trabalho muito a sério, mas havia duas coisas que faziam-no fechar a sorveteria mais cedo. Uma delas eram os jogos do Corinthians. Torcedor fanático, não perdia um jogo. Receber a família em casa era outro motivo que valia deixar a sorveteria fechada, especialmente quando os cunhados saíam de Mato Grosso para visitar Ailton e família. "Afeiçoou-se muito a eles e vice-versa. Meu irmão, Aléssio, o considerava como filho", relembra Nelma.
Se Ailton já era o "mel empoçado" da mãe, imagine como ele era com os netos: um vô pra lá de açucarado! Márcio teve filhos bem cedo, o que proporcionou ampla convivência com o Pedro. "E aí, Pedrão?", falava sempre. O menino tornou-se seu companheiro de jogos de baralho — os dois eram apaixonados por carteado.
Esse homem doce ficou radiante quando soube que seria avô de uma menina. Ele sempre sonhou em ter uma menina na família, pois até então só havia sido pai e avô de homens. "Já tinha desistido de receber uma mulher na família". Ficava todo feliz em sair com ela para dar voltas de moto e comprar pão.
Ailton também era fã de Amado Batista, dizia que se tivesse dinheiro contrataria um show só para ele e a família.
A doçura de Ailton não se foi com sua partida. Está em cada pessoa que era próxima desse doce senhor. Viverá para sempre no coração dos seus.
Ailton nasceu em Pontalina (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Ailton, Nelma de Fátima Machado de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de maio de 2022.