1955 - 2021
Acolher - ou acocar, como gostava de dizer - era sua especialidade, desde passarinhos a estrangeiros na cidade.
Cleide, como gostava de ser chamada, não fugia ao trabalho. Começou muito jovem para ajudar a família, a mãe adotiva e os irmãos, muito humildes.
No auge dos 63 anos insistia em ajudar o pedreiro da obra de sua casa, capinar o quintal, costurar e trabalhar na igreja.
Desconheceu sua família biológica, e talvez por isso priorizasse tanto a família que construiu. Teve ao todo quatro filhos. Três do primeiro casamento: José Roberto, Cristiane e Carla. E a caçula, Ester, fruto do relacionamento com João. Seu companheiro de vida e seu oposto. Com seus argumentos, Cleide sempre dava um jeitinho de convencê-lo a fazer o que queria. E ele, cedia, pois procurou sempre cuidar dela e agradá-la em cada momento do relacionamento de vinte e seis anos.
Teve ainda oito netos e dois bisnetos. A neta mais velha, Stefanny, era sua preferida e ela mal disfarçava. “Todos estão sentados em meu coração, mas você está deitada”, dizia ela.
Aos 64, realizou o grande sonho de sua vida: ter sua casa pronta para receber visitas. Amava receber pessoas, e a mesa da cozinha sempre estava pronta e farta para acolher familiares, conhecidos e até pessoas que fossem de outras cidades para que encontrassem “uma família”. E assim, acolheu cariocas, baianos e tudo mais. Ah, ela amava acolher; ou melhor, acocar, como ela dizia.
Amava cuidar dos passarinhos. Os beija-flores sempre tinham água doce para matar a sede em seu jardim, este, repleto de rosas, margaridas e outras flores que cuidava.
Falar do “Seu Jesus” pra todos que conhecia era algo que ela fazia toda vez que tinha oportunidade de evangelizar — do carteiro ao leiteiro, ninguém escapava. Gostava de trabalhar na igreja em que congregava. Não tinha preguiça alguma de auxiliar na cozinha, nas vendas de roupas dos bazares, na confecção de uniformes para as festividades.
Cozinheira de mão cheia, costureira exemplar, artesã incomparável. Costurou relacionamentos com muitas pessoas, por meio do seu carisma e sinceridade. Talvez seu maior dom tenha sido maternar.
Mulher maravilhosa, que infelizmente não tinha superpoderes, e cedo ainda partiu para o Jesus de quem tanto falava. Dona Cleide deixa um vão no coração da família e dos amigos que tiveram o privilégio de conhecê-la.
Ecreide nasceu em Ribeira (PR) e faleceu em Castro (PR), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha e pela neta de Ecreide, Ester da Silva Pereira e Stefanny Silva. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Ester da Silva Pereira e Stefanny Silva, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 6 de abril de 2022.