1968 - 2021
Descobriu em si a habilidade de amar sem medida, graças ao afeto dos pais que o escolheram como filho.
A marca de nascença na mão pequenina de Idemberg seria o sinal de uma nova vida para aquele recém-nascido deixado na casa de acolhimento da sua cidade, Mossoró. A visita de Francisca em busca de um fruto pela sua união com Iracir e o amor à primeira vista pelo menino foram o ponto de partida para um outro futuro. O casal não hesitou em dar carinho, proteção e uma família a Idemberg, que viveu a perda do pai adotivo ainda na infância. Nessa época, as brincadeiras e comilanças faziam sua diversão. O brinquedo favorito era o triciclo presenteado pela mãe. Os pais biológicos foram por ele descobertos ao acaso, já na juventude, causando um pouco de revolta com toda a situação.
Mas os chamegos de Dona Francisca, no entanto, fizeram-lhe bem para o coração. Idemberg se fez um homem amoroso e cuidadoso com os outros. “O fato de ter sido abandonado quando nasceu despertou nele o prazer de dar amor”, externa a filha Raquel. Apesar dos poucos estudos, deixando inclusive o ensino fundamental por completar, tornou-se um rapaz trabalhador e independente. Teve emprego em supermercado e como garçom.
Tão logo atingiu a maioridade, engraçou-se com Lúcia, sua vizinha de bairro, em plena dança de quadrilha com a menina de 12 anos. O namorico inocente se estendeu e se firmou por longos oito anos e, no auge da juventude, a dupla comprometeu-se em matrimônio. Ali nascia também o compromisso com a religião na vida de Idemberg. Passou a frequentar a igreja Assembleia de Deus e se dedicou a pastorear e liderar comunidades inteiras pelos interiores do Rio Grande do Norte. A essa altura o casal já havia constituído a família, com o nascimento de Raquel e Jônatas, que acompanhavam os pais a cada mudança de lugar. A certo tempo, os filhos crescidos voltaram para a cidade de origem em busca de estudos e trabalho. Idemberg, mesmo atuando aqui e ali, não perdia qualquer oportunidade de estar com sua prole.
“Painho deixava de fazer as coisas para si para proporcionar o melhor a nós e à minha mãe”, conta a primogênita. “Ele era amigo de todos, gostava de interagir, de receber os fiéis da igreja em casa, era alegre e comunicativo”. E completa: “ajudava gente necessitada fazendo a feira, dando cesta básica”.
As lembranças de Raquel narram um homem gentil com a vida, apesar dos sofrimentos emocionais e físicos que a vida lhe impôs, com a saúde mais debilitada na maturidade e a necessidade de cuidados com a diabetes, a pressão alta e os problemas renais crônicos. “Ele não murmurava e tinha muita gratidão a Deus”, reforça a filha.
A chegada do neto Jessé, todavia, deu-lhe mais viço. “Ele era um babão”, brinca a tia do garoto. O homem reticente a fotos e vídeos virou fã de fazer registros com o bebê. Durante o último encontro dos dois, avô e neto simularam os “parabéns a você” na frente das câmeras. O vídeo foi memória e saudade no primeiro aniversário de Jessé.
Essas e outras recordações do seu painho são postadas diariamente por Raquel em suas redes sociais. “Era meu amigo e eu compartilhava tudo com ele”. E relembra o pedido derradeiro de Idemberg na internação: “Você, sua mãe e seu irmão, cuidem de Jessé”. O nome bíblico e de origem hebraica do menino responde em significado: “Eu possuo” ou ainda “Deus existe”.
Idemberg nasceu em Mossoró (RN) e faleceu em Mossoró (RN), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Idemberg, Raquel Silva Guimarães. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 31 de julho de 2023.