1960 - 2020
Tinha aquela risada marcante, quase sempre seguida de um ‘Marrapaiz’!
“Dificilmente alguém ficava triste quando papai estava por perto", assim conta Giuliana, lembrando do quanto a incansável alegria de seu pai Gildásio, o Gil, inspirava todos ao redor.
Gildásio era uma festa. Flamenguista roxo, acordava nas manhãs dos dias de jogo com o hino do time rubro-negro. Sua casa estava sempre cheia de amigos e familiares, num movimento que não tinha fim. Ele, muito vaidoso, sempre estava bem-vestido.
Nascido em Poção das Pedras, no interior do Maranhão, Gildásio era farmacêutico bioquímico. Seu gosto pelas conversas e talento para a oratória eram notáveis. Apaixonado por política e pelo seu município, chegou a ser eleito prefeito. Deixou um legado de benfeitorias a Poção das Pedras e sua gente, pelo qual, segundo a filha, gostaria de ser lembrado.
“Papai era muito agitado, estava o tempo todo ocupado, mas nunca deixava de cuidar das pessoas, sempre disposto a resolver problemas”, diz Giuliana. Ela também observa, com bom humor, que carisma, capricho e “mania de organização” faziam do pai o centro da família. "Ele definia as funções, o que cada um deveria fazer e como fazer”.
Certa vez, logo depois de se casar com Liana, a mãe da Giuliana, Gildásio arranjou um mascote quase tão animado quanto ele. Chegou em casa com um bichinho que destruiu todas as roupas de Liana e, por fim, o apartamento inteiro. Mas Gil já estava apegado demais e não teve mais jeito: o mascote Chico se tornou, oficialmente, um membro da família.
Giuliana, a quem Gil só chamava de “minha princesinha" recorda-se do enorme carinho do pai: "Eu fui filha única por muito tempo, logo, papai fazia de tudo por mim. Uma vez, eu queria que ele me comprasse uma bonequinha que eu vi no shopping e ele disse que mais tarde a gente ia ver. Entramos numa loja de decoração e eu, criança e muito impaciente, fiquei insistindo para que ele comprasse a boneca, senão eu deixaria cair um conjunto de xícaras que estava segurando. E não é que as xícaras escapuliram da minha mão e se despedaçaram no chão? Meu pai me olhou com um sorriso e disse: 'Marrapaiz, tu é demais, hein?' Ele teve que comprar o conjunto de xícaras e ainda ganhei minha boneca. Papai nunca brigou comigo.
Vou sentir falta das longas mensagens que ele me escrevia no meu aniversário, das férias que a gente passava juntos em São Luís, pois todas as vezes que nos reencontrávamos, nós tínhamos apenas bons momentos juntos.”
Gildásio teve uma vida intensa e iluminada, como os dias de verão de sua terra natal.
Gildásio nasceu em Poção de Pedras (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Gildásio, Giuliana Marques da Silva. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner, editado por Tatiana Natsu, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de março de 2021.