1965 - 2020
Generoso e acolhedor, nunca perdeu a alegria em meio a uma vida de luta.
Nascido na região dos Lençóis Maranhenses, o filho de pescador contava com orgulho que subia e descia as dunas de sua cidade para ajudar o pai a carregar os peixes.
Aos 14 anos, foi sozinho para São Luiz, onde morou e cursou o Ensino Médio e logo começou a trabalhar para sustentar a mãe e os três irmãos após o divórcio dos pais. "Daí pra frente, sua vida passou a ser de muita luta, mas nunca perdeu a alegria de viver", lembra sua irmã, Genileuza.
Ubiratan e Genileuza tratavam-se carinhosamente de "Manin" e "Maninha". Algum tempo depois da ida dele para a capital, foi a vez de Genileuza juntar-se a ele. Os dois moravam sozinhos, mas o coração de Ubiratan sempre estava com a família no interior. "Uma vez, ele chegou em casa com um pote de sorvete, mas logo se lembrou dos irmãos e da mãe em uma outra cidade, sem acesso a nada daquilo... e não conseguiu comer nem uma colherada sequer", conta a irmã.
Um homem íntegro, generoso e acolhedor que logo conquistava a simpatia de todos. De seu casamento de treze anos veio mais uma razão para sua felicidade: o filho Miguel, a quem amava incondicionalmente. Nada conseguia dissuadi-lo de buscar o filho na escola todos os dias.
No coração dele sempre cabia mais um, e ele foi como um pai para o sobrinho Joaquim, filho de Genileuza. "Quantas vezes ele não chamava a nossa atenção, para o nosso bem, e depois voltava pedindo desculpas?" Joaquim relembra e diz: "Meu tio era o melhor cara do mundo".
Ubiratan foi vendedor durante vinte e cinco anos, até que decidiu trabalhar por conta própria. Pelos cinco anos seguintes, passava de casa em casa com a bolsa nas costas, diariamente, para conseguir seu sustento. Mas, em maio de 2018, motivado principalmente pela vontade de ajudar o irmão mais novo, conseguiu abrir sua primeira loja física, onde vendia móveis.
Apesar dos pedidos da família para que sempre tomasse cuidado com clientes e concorrentes mal-intencionados, ele nunca se negava a fazer nada por ninguém. E, no final de 2019, veio mais uma conquista: Ubiratan conseguiu abrir o segundo estabelecimento. Mas, em 2020, a pandemia pegou de surpresa seus negócios, que cresciam cada vez mais.
Para Joaquim, que trabalhava com ele, a loja nunca mais será a mesma sem o tio.
Sua última reunião de família aconteceu em março de 2020. O irmão caçula não queria comemorar o próprio aniversário, mas Ubiratan insistiu muito para que a ocasião não passasse em branco, até que o encontro foi marcado. "Parece até que ele adivinhou que seria a última vez", diz Genileuza. Nesse dia, conversaram longamente sobre a pandemia e a irmã presenteou Ubiratan com algumas máscaras de pano que ela mesma havia costurado. Ele lhe disse que, se adoecesse, preferiria que Deus o levasse de uma vez, porque não queria sofrer. "Nesse ponto, acho que Deus o atendeu", ela conta.
Ubiratan foi uma das primeiras vítimas da Covid-19 em São Luiz. Quando a notícia chegou em Paulino Neves, a cidade parou, entristecida pela partida daquele morador tão ilustre. Em vida, ele sempre pedia para ser cremado quando sua vez chegasse: acreditava que há uma vida após a morte, e que o corpo que deixaria para trás não teria mais utilidade depois de sua passagem para um plano melhor. Sua família atendeu seu desejo final e, após alguns meses, suas cinzas foram levadas para sua cidade natal, onde descansam junto a um ipê-amarelo. A árvore, que foi plantada em homenagem a sua cor preferida, agora embeleza a paisagem onde ele viveu tantos momentos bons.
As saudades são muitas, mas a memória de Ubiratan irá sempre florescer dentro dos vários corações nos quais semeou tanto amor e generosidade. Já sua neta Maitê — a "moleca do titio" —, com quem conviveu por apenas três meses, leva a lembrança do avô nos olhos verdes, idênticos aos dele. A semelhança é tanta que, de vez em quando, a família a chama de "Batanzin", em homenagem ao próprio apelido de Ubiratan: "Batan".
"Quando Deus mandou Maitê, foi para preparar a família para viver sem ele", conclui Genileuza.
Ubiratan nasceu em Paulino Neves (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã e pelo sobrinho de Ubiratan, Genileuza Gomes da Silva e Joaquim Gabriel da Silva Linhares. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Victoria Vital, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de fevereiro de 2021.