Francisca Félix de Oliveira

1946 - 2020

Uma vida de rara intensidade e ousadia.

Muito cedo, a severidade da sobrevivência se impôs a Francisca: ainda na infância perdeu o pai e, com a mãe – Salustiana – e as irmãs, foi morar na casa da avó Teodora. Logo todas se engajaram na dureza do trabalho. Dureza enfrentada por mulheres de fibra, resistentes à aspereza do sertão, entre o Maranhão e o Piauí. “Mulheres honradas e guerreiras”, escreve a filha Daniela, “sendo Francisca a mais serelepe e espertinha”.

Anos mais tarde, Francisca foi a um passeio onde conheceu outra moça, também Francisca, muito preocupada com a punição do pai, caso ela chegasse tarde em casa. Então “a sempre curiosa” futura mãe de Daniela perguntou: “Por que teu pai e não tua mãe?” Ao que a outra Francisca respondeu dizendo que o pai era viúvo. A tréplica da nossa Francisca não poderia ser menos inusitada: “Pois vou me casar com ele”. “E os anjos disseram amém”, completa Daniela.

De fato, tempos depois ela o conheceu – “isso mesmo, o viúvo com quem ela disse, da boca pra fora, que se casaria”. Foram três meses de namoro – ou, “em suas próprias palavras, foi ‘meter um casamento nos peitos’”. Lá se ia “uma jovem sem juízo, de 23 anos, casar-se com um viúvo que vinha acompanhado de 11 filhos e pouco dinheiro”.

E assim Francisca começou a vida junto a Severino, seu grande amor, e Janet, José, Francisca, Raimundo, Lurdes, Conceição, Bira, Marilene, Rosilene, George e Márcia, “herança de outra Francisca, a Félix de Carvalho”. Logo depois vieram Fábio, Daniela e, por último, “no fim da rama”, André Luiz, formando a família de 14 irmãos. Isso sem contar os subsequentes netos, sobrinhos, genros e noras.

“E acreditem”, prossegue Daniela, “ela possuía um incrível poder de agregar todo mundo!” Sobretudo depois que perdeu Severino, tornando-se “mãe e pai de todos”. Diligente, apaixonada e firme, Francisca, “como boa ariana, conseguiu ajudar o marido a crescer e deu oportunidade a quem quisesse estudar e evoluir na vida”. Vida que, no caso da agora septuagenária Francisca, tão destemida, parecia breve demais. Ou insuficiente para tanta intensidade.