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José Luiz dos Santos Dias

1963 - 2020

Ele sempre pedia reggae na rádio da Cidade Ocidental.

“Tio Zé”, como era carinhosamente chamado pelo sobrinho Jean, foi “um cara à moda antiga”. Fechado, não era muito de expressar seus sentimentos. Quando se dirigia às pessoas, principalmente aos de casa, era bem direto, “às vezes até um pouco duro demais, mas tinha um coração nobre”, explica Jean. Em suas intervenções, a intenção era ajudar com uma sinceridade marcante. Nos churrascos em família, entretanto, o lado sério e comedido de José Luiz ficava esquecido. Com muita animação, ele brincava com todo mundo e movimentava a festa com muito bom humor. Gostava também de dançar forró junto com as irmãs, França e Marília.

Por ser o filho mais velho, assumiu o papel de agregar a família, principalmente depois da morte da mãe, Maria Helena. Em muitos finais de semana, o churrasco na casa de José Luiz era ponto de encontro, de alegria e de celebração de acontecimentos importantes. Foi o que aconteceu, por exemplo, na data de oficialização do relacionamento dele com a esposa, Júlia. Após alguns anos de união estável, decidiram formalizar o casamento, marcado por companheirismo e muito afeto. Nos encontros da família, chamavam a atenção os gestos de carinho entre os dois, com abraços e beijos.

Há uma curiosidade sobre a escolha dos nomes dos filhos, Luiz Fernando e Luiz Pancho: José Luiz fez questão de batizá-los com nomes compostos. O motivo foi a vontade de que seu segundo nome, “Luiz”, estivesse presente no nome dos dois. Na educação deles, cuidado e franqueza também foram a marca registrada. José Luiz não poupava esforços para dar aos filhos o que considerava ser o melhor, sem deixar de ser firme quando precisava.

Dono de um sorriso largo, de voz alta e de boa estatura, José Luiz viveu em Cidade Ocidental (GO), onde fez muitos amigos. Costumeiramente, ligava para a rádio local, dizia que era o “Cabeção” e pedia alguma música. Entre os ritmos preferidos, estava o reggae, e um dos cantores prediletos era Edson Gomes.

Jean também destaca que o tio era uma pessoa disciplinada e corajosa. “Na minha infância e adolescência, quando a gente ficava receoso, geralmente tio Zé aparecia com as convicções dele. Nas situações em que a gente ficava hesitante, ele tinha uma visão mais direta. Parecia até que ele não tinha medo de nada, mas eu acredito que ele tinha, sim, medo de algumas coisas. Mesmo assim, eu sempre via nele uma pessoa decidida, que trazia um ar de coragem e de ser uma pessoa bem segura de si.”

Um fato marcante, que também demonstra a capacidade de foco e decisão de José Luiz, foi o momento quando decidiu parar de fumar. Numa noite, dormindo na sala da casa onde vivia a família materna, ele acordou de madrugada, com vômitos. Nesse instante, ele disse em voz bem alta que iria parar de fumar; e assim fez. Nunca mais colocou um cigarro na boca.

Motorista particular de uma família rica de Brasília, José Luiz foi um homem determinado, batalhador, disciplinado e honesto. “Uma pessoa que não foi perfeita, pois tinha seus defeitos, mas que foi muito humana e amada”, descreve Jean. Na visão do sobrinho, o “tio Zé” representou tudo o que uma pessoa deve ser em sua existência e segue vivo como exemplo de vida para toda a família.

José nasceu em Brasília (DF) e faleceu em Brasília (DF), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de José, Jean Carlos dos Santos Landim. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 6 de agosto de 2021.