1937 - 2020
Levou várias picadas de cobra durante a vida, infortúnios que fortaleceram sua fé.
De origem humilde, trabalhou desde pequeno. A rotina de trabalhar de sol a sol começava cedo para o baiano Hildo. Era forte como poucos: na infância, foi picado por uma cobra venenosa; quando adulto, morava numa fazenda repleta de serpentes e sofreu outros seis ataques de cobras extremamente letais. Esses infortúnios fortaleceram sua fé.
Anos mais tarde, o lavrador tornou-se dono de uma mercearia. Embora preferisse, nas palavras do filho Dinailton, "perder o negócio à amizade", ou seja, vendia muito e não recebia tudo. De bom coração, sempre colocava compras a mais ao ver que uma pessoa precisava e dizia: "Pague quando puder!”. Quando percebia que o cliente não tinha condições de sanar a dívida, perdoava e mesmo assim o recebia sempre de bom humor.
Teve muitas aventuras amorosas durante a vida, numa delas, teve um casal de filhos. Ninguém da família, nem mesmo ele chegou a conhecê-los, pois moravam em outra localidade. Mas ele sempre pensava nesses filhos e lhes desejava o melhor.
Maria Ribeiro Lopes foi seu grande amor, viveram mais de cinco décadas juntos e tiveram vários filhos e netos. Ela faleceu em 2019, aos 74 anos.
Hildo foi um excelente companheiro, pai, avô e amigo. Gostava de agradar, principalmente os 11 netos. Infelizmente não conheceu a neta caçula que nasceu logo após sua partida. Era muito carinhoso, esmerando-se em agradar cada um com presentes e comidas favoritas. Entretanto, segundo ele mesmo dizia, limitava certas brincadeiras de contato físico "para que eles não perdessem o respeito por ele".
Na verdade, havia outro motivo mais sério para esse limite. Certo dia, sua filha Josenilda estava brincando e caiu, o que ocasionou um problema grave no coração. Com o acidente, Hildo mostrou o verdadeiro significado da palavra pai. Correu imediatamente e levou-a para fazer uma cirurgia em Salvador. Ele se desfez de bens, gastou muito dinheiro, mas deu o devido tratamento à filha. Ela ainda viveu muitos anos depois do acidente, porém, faleceu em 2007, aos 36 anos. Depois disso, ele sempre dizia: "Brinquem, mas com cuidado, não quero ver acidentes com vocês novamente".
Por diversas vezes, ele e os filhos tiravam um tempo para conversar, brincar, fazer resenha. Dentre as conversas, o que mais chamava atenção era seu sorriso fácil, especialmente quando os filhos faziam perguntas como: “Por que o senhor tem uma ortografia tão perfeita sendo que não estudou muito?” “E essa postura aí, qual o segredo dessa coluna reta?”.
Suas alegrias eram ver todos bem, ouvir uma boa música, assistir aos jogos de futebol e seriados. Era um torcedor apaixonado pelo Vasco da Gama, independente da fase do time: ganhando ou perdendo.
Homem de muita fé, creditava a Deus os livramentos de morte experimentados durante a vida. "Quanto à caridade, era muito bondoso e jamais negava ajuda a um necessitado, também gostava de compartilhar suas farturas com vizinhos e amigos. Só não gostava de frequentar igrejas, por acreditar e dizer: "Deus está em todo lugar, aqui ou lá, acreditar em Deus pra mim já é o suficiente!" Para alegria da família, na velhice tornou-se evangélico. Mesmo assim, eram os membros da igreja que iam até sua casa. Por sinal, recebia muito bem os irmãos na fé, amigos e familiares.
"Sempre foi uma pessoa alegre, saudável e que gostava de viver. Agora, o que nos resta é a saudade e lhes faço um pedido: tomem os devidos cuidados e vacinem-se!", finaliza Dinailton em nome de toda a família e prestando as devidas homenagens a todos que se foram.
Hildo nasceu em Poções (BA) e faleceu em Porto Seguro (BA), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Hildo, Dinailton Lopes. Este tributo foi apurado por Talita Camargos, editado por Luciana Assunção e Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de janeiro de 2022.