Sobre o Inumeráveis

Keila Barbosa de Jesus

1981 - 2020

Tal qual mariposas em torno da luz, amigos se reuniam ao seu redor sem risco de se queimarem: ela aquecia corações.

Keila era gastrônoma, filha da dona Mirinha e do seu Roque. O pai dizia que a filha era a menina mais bonita que ele viu na vida. Seu Roque pôde conviver com a filha por apenas seis anos, ela era a caçula dos irmãos. Além de Keila, os pais ainda tiveram Kelsen, Carlos, Quézia, Kelly e Kleven.

Tudo para ela tinha que ser muito: muito abraço, muito carinho e muito amor. Keila amou os irmãos, a mãe – sua companheira inseparável ─, que a chamava de "Fufurinha".

Enfrentou diversas dificuldades na vida. Não pôde ter filhos, uma de suas vontades não concluídas; mas amou e adotou todos os sobrinhos e afilhados, a quem chamava de vidas. A esclerose múltipla debilitou aos poucos a forte, mas, ao mesmo tempo, sensível Keila.

"Estávamos prontos para quase tudo, mas não para perdê-la. Perder a mulher que queria apenas continuar a amar o mundo, sorrindo sem nenhuma barreira, mesmo quando ele não sorria de volta", relata Carlos, o irmão que adorava quando ela o chamava de pai.

Para o irmão, a sua "querida menina", que era como ele se referia a ela "saiu da vida sem todos os abraços que merecia ter recebido" e complementa: "E esses abraços ficaram presos em nós, num tipo estranho de algemas, e nos resta vivermos presos a tudo que ela era de sublime, inclusive ao seu perfume, que a precedia – no exagero que me é permitido –, quilômetros antes dela chegar."

Os sorrisos de Keila impeliam os seus a querer mudar o mundo, a transformá-lo num lugar merecedor de tão expressiva fortuna. Todos que tiveram o prazer de conviver com ela podem se considerar ricos, segundo o irmão que ainda diz: "Ela aquecia a gente e as nossas casas. Concordo com o meu pai que disse, ao voltar da maternidade, que ela era a menina mais linda do mundo. Muitos dizem que era muito vaidosa ─ o que é uma grande e deliciosa verdade ─, mas tudo era natural nela, até toda aquela exuberância que levava pra cima e pra baixo, mas que era vizinha de porta da mais sutil das inocências."

"Sorriso, sorriso e sorrisos, seus companheiros fiéis. E creio, dentro da fé que me falta, que de uma maneira ou de outra, num dia em que todas as belezas convergirem para um único ponto, o seu sorriso ─ como era lindo e como nos fazia bem! ─, renascerá em cada um de nós", conclui lindamente o irmão.

Keila nasceu em Cubatão (SP) e faleceu em Santos (SP), aos 39 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo irmão de Keila, Carlos Roque Barbosa de Jesus. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.