1953 - 2020
Respeitosa, caridosa, generosa, amante da família, filha até o fim, mãe para sempre.
Esta é uma linda homenagem do filho Sidartha, contanto a história de vida da mãe:
Minha mãe, como muita moça de família pobre, começou a vida na luta. Conta minha avó, que ela sempre foi uma menina muito discreta, séria e responsável. Como boa gaúcha, minha mãe era bairrista, mas também sabia rir de tudo no meio da família.
Lembro-me do seu sorriso, consigo ouvi-lo agora ao pensar nele. Brincalhona, volta e meia entretia os filhos com brincadeiras e jogos, fosse em casa, fosse num consultório médico, em todos os lugares. Fora da família, em que adorava se aninhar, era discreta e reservada. Sempre foi muito responsável, até demais: em todos os relatos, ela sempre aparecia como boa filha, como boa estudante, boa trabalhadora, boa esposa, boa mãe. Teve poucas e boas amigas, tendo sido uma também ─ suas maiores amigas foram a mãe e a filha. Tenho certeza de que ela poderia ser boa no que quer que escolhesse fazer, mas tinha também a mania de desconfiar da própria capacidade. Estudou, trabalhou, mas por fim, logo no começo da vida, decidiu ser esposa e mãe de família, ofícios aos quais dedicou sua vida.
Ligadíssima em detalhes e na excelência, tinha tudo em casa, tudo que precisasse para fazer a casa funcionar perfeitamente ─ apelidou nosso lar de "casa do tem-tem", porque qualquer coisa que alguém precisasse, tinha. Amou muito seu marido, meu pai. Lembro de uma ocasião em que, após alguns meses separados pelo trabalho dele, fomos ao aeroporto recebê-lo e os vi colados em um abraço longo e apertado, prova da saudade que sentiam um do outro. Meu pai também a amou infinitamente, vivia me dizendo que ela o havia salvado do mundo, que era o início e o fim de tudo, o sentido fundamental de sua vida.
Aos domingos, mamãe nos acordava para comer empanadas feitas por papai. Não tenho lembrança dela que não fosse de alguém que protegesse e acalentasse, que cuidasse e apoiasse. Também brigava, mas sempre havia um toque de amparo ou de acolhida no final.
Amou profundamente os filhos, colocou sua vida a serviço deles e da família. Sempre confiou nos seus e todos confiavam nela.
Seguindo as transferências do trabalho de meu pai, mamãe levou a família a todos os recantos do país, moramos à beira de praias, no interior de florestas, em cantos tórridos de ruas de terra em povoados, em metrópoles. Ela parecia incansável. Apenas muito depois nos confessou que também cansava.
Marlene, minha mãezinha querida e amada, deixa mãe, marido, filha, dois filhos e respectivas noras, quatro netos e uma saudade infinita, que volta e meia teima em correr, caudalosa, pelas nossas faces.
Marlene nasceu em Porto Alegre (RS) e faleceu em Uberlândia (MG), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Marlene, Sidartha Soria e Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 1 de janeiro de 2021.