1965 - 2020
Nunca tirava as etiquetas das vestes que havia acabado de comprar, só pra exibir que estava de roupa nova.
Um farmacêutico, amante da boa música e da praia; mas cujo coração era, de fato, apaixonado mesmo por sua esposa Maria Betânia, a quem carinhosamente chamava de Bety. Não havia tristeza capaz de fazer morada onde Paulo estivesse; ele honrava o privilégio da vida com sua alegria em usufruir dos pequenos prazeres da vida.
Para vê-lo sorrir de contentamento, bastava um prato de sopa quentinha e saborosa no jantar, desde que sua família estivesse toda ao redor da mesa para partilhar do alimento. Assim também eram os almoços de domingo: risos, conversa boa, vida em família.
Seu maior orgulho era poder dizer a todo mundo que ele e sua amada Bety haviam criado com todo amor os dois filhos, João Paulo Cristovam Leite dos Santos e Rayanna Rhita Leite dos Santos; dando a ambos uma sólida formação acadêmica: um filho dentista e uma filha fisioterapeuta.
Rayana lembra com ternura da alma brincalhona de seu pai. Paulo estacionava o carro do outro lado da rua só para pregar-lhes uma peça, dizia: “Bora dar uma volta no carro? Quem quer dar uma volta no carro?!” Pois e não é que todo mundo se punha a trocar de roupa e se arrumar para o tal passeio? Então, quando todos já estavam dentro do automóvel, num aperto só, alguns até sentados no colo do outro, Paulo dava partida no carro, dirigia até a esquina e voltava, parando o carro na porta da casa. Ao final da traquinagem, divertindo-se, dizia: “Pronto! Já demos uma volta no carro!” A molecada protestava e acabava ganhando uma volta de verdade pelas ruas da cidade.
Outra peraltice de Paulo era fazer questão de usar as roupas novas e, até mesmo os bonés, sem tirar a etiqueta da loja. Divertia-se ao chamar a atenção dos passantes na rua. Divertia-se ao provocar sua amada Betânia ao dizer: “Tá vendo como todas as menininhas olham pra mim?!”
Faz falta a alegria de Paulo, faz falta sua presença afetiva, seu orgulho pelos filhos, sua capacidade imensa de amar o próximo. Dá saudade até das esquisitices, como andar de pochete pra todo lado, inclusive nas festas; ou mesmo pedir a bênção às pessoas. Paulo partiu, mas deixou no coração dos seus essa semente indelével de alegria e a estranha mania de ser sempre amável, carinhoso e feliz.
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Sorridente, sempre cumprimentava com um sonoro "Oh, jovem"!
Paulinho da farmácia, Paulinho do hospital, Paulinho de Betânia. Na cidade de Pesqueira, todo mundo conhecia o Paulinho. Ele trabalhava na farmácia do hospital e na farmácia da família Santos, estabelecimento tradicional na cidade.
"Simpatia? Boa gente? Era ele", nas palavras de sua cunhada, Zélia Maria.
"Era solidário e engraçado. Um ótimo pai de família. Trabalhou muito e conseguiu formar a filha e o filho: fisioterapia e odontologia. Até frango assado ele vendeu para sustentar os filhos na faculdade em Caruaru", completa Zélia.
Apaixonado pela esposa, Maria Betânia, foi um ótimo marido.
Zélia lembra uma característica marcante do cunhado: sempre tirava foto com o dedo apontado para quem estava ao lado dele. "E, ao cumprimentar uma pessoa, dizia: Oh, jovem!"
"Teve carreata para acompanhar o caixão lacrado até o cemitério". Ela encerra dizendo: "Paulinho se foi e estamos todos tristes".
Paulo nasceu em Pesqueira (PE) e faleceu em Pesqueira (PE), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho e pela cunhada de Paulo, João Paulo Cristovam Leite dos Santos e Zélia Maria Ramos de Araújo. Este tributo foi apurado por Ana Macarini e Carla Cruz, editado por Ana Macarini e Marilza Ribeiro, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 9 de novembro de 2020.